A pesquisa também
identificou que 18% não concordam com a afirmativa e 6% não souberam responder.
Além disso, foi levantado que, para 62% dos entrevistados, a chance de votar em
um determinado candidato aumentaria se ele apresentasse um plano específico
para proteger a Amazônia. Apenas 4% disseram que diminuiria a chance de votar e
23% disseram que não faria diferença.
Segundo a
cientista política Arleth Borges, da Universidade Federal do Maranhão, e
coordenadora do Laboratório de Estudos Geopolíticos da Amazônia Legal no
Maranhão (Legal), o percentual de pessoas que colocam a Amazônia como um
assunto prioritário é extremamente significativo por várias razões.
“Nos levantamentos
sobre os principais problemas do país, as pessoas vão logo de cara falando do
desemprego, da inflação, do custo de vida, da saúde, da pandemia não estar
resolvida e ainda deixar muitas sequelas. As pessoas ainda ressaltarem a
questão ambiental em meio a todas essas emergências, acho que dá uma relevância
e um peso muito importante para essa questão”, aponta a cientista política.
Entre os
resultados da pesquisa, também foi avaliada a percepção dos eleitores sobre a
atuação do governo Bolsonaro. Foram 48% dos entrevistados que consideraram a
ação do governo federal ruim ou péssima, 22% consideraram regular, 19% que o
trabalho é ótimo ou bom e 22% não souberam responder.
Arleth Borges
destaca que o fato de a Amazônia ser vista como uma prioridade tem que ser
ressaltado, sobretudo em um cenário em que tem havido mais circulação de
informações a esse respeito. Foram 64% dos entrevistados que disseram se sentir
informados sobre os acontecimentos na região amazônica. Além disso, 41%
responderam que escutam “sempre” falarem sobre o tema.
“Eu acho que as
emergências climáticas chegaram à porta de cada um de nós. Eu creio que isso
ajudou as pessoas a olharem mais para a problemática ambiental como algo que é
da máxima importância e urgência”, destaca.
A pesquisa do PoderData foi produzida entre os dias 3 e 5 de junho deste ano. Foram realizadas três mil entrevistas com pessoas acima dos 16 anos, em 243 municípios nas 27 unidades da federação. Mulheres correspondem a 54% das respondentes e 56% das pessoas recebem até dois salários mínimos. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
Outros resultados
O geógrafo Diosmar
Filho, pesquisador da Associação de Pesquisa Iyaleta e coordenador da Pesquisa
Amazônia Legal Urbana (2020-2022), complementa que o fato da Amazônia ser
indicada como uma prioridade para os eleitores consultados está relacionado com
a forma que o Brasil olha o bioma amazônico.
“O reflexo disso
para mim é que 43% dos entrevistados são do Sudeste e 7% são da região Norte.
Em uma eleição, é como se a gente tivesse fazendo o processo eleitoral e dentro
de uma construção política, aqueles que não vivem na Amazônia entendem o que é
a importância da Amazônia como bioma. Do ponto de vista do Sudeste, a Amazônia
é uma prioridade no debate eleitoral brasileiro e isso é importante, já que
você está falando economicamente da maior região e da maior centralidade urbana
do país”, completa o pesquisador.
O levantamento do
PoderData também identificou que sete em cada 10 entrevistados (70%) acreditam
que preservar a Amazônia é importante para o desenvolvimento econômico do país.
Apenas 18% acreditam que não tem influência e 12% não sabem.
Além disso, entre
as frases que mais concordariam, 48% dos respondentes escolheram que “a defesa
da Amazônia é necessária para o futuro da economia e do Brasil”.
A cientista
política Arleth Borges ressalta que, historicamente, o desenvolvimento tem se
materializado na exploração dos recursos naturais de modo pouco atento,
indiferente ou até hostil à questão da sustentabilidade e à questão das
populações que habitam esses espaços.
Segundo ela, o que
se tem acompanhado é um descolamento entre exploração econômica da Amazônia e a
questão da melhoria da condição de vida ou da melhoria da economia mesmo para o
país, porque tem sido um 'desenvolvimento' muito predatório e destrutivo.
“A maioria na
pesquisa considera que os recursos e riquezas da Amazônia podem ter um impacto
positivo para a economia e desenvolvimento do país, mas isso se esses recursos
foram explorados adequadamente, inclusive pela própria condição de vida dessas
populações mais diretamente afetadas”, completa.
Outro dado
utilizado na pesquisa é de que 65% das pessoas consideram que a proteção da
floresta pode ter um impacto positivo no combate à fome no país.
“Se você protege a floresta, você trabalha na dimensão de que não haverá fome. É um sentimento de humanidade e de relação com a natureza muito maior do que um programa econômico de combate da fome, é um princípio que a gente precisa nessa agenda do século 21 de mudanças climáticas. Não é combater a fome, é trabalhar para que ninguém tenha fome”, pontua o geógrafo Diosmar Filho.
O que os
presidenciáveis devem levar em consideração?
Para Diosmar
Filho, o debate sobre a Amazônia deveria ser o principal, além do debate
racial, durante as eleições. Segundo o geógrafo, quem vai se candidatar a
presidente do Brasil em 2022 deveria trazer qual é a sua plataforma sobre
mudanças climáticas e Amazônia como a primeira instância.
Ainda de acordo
com Diosmar, os candidatos a presidência do Brasil hoje precisam falar com a
Amazônia como um bioma e um território -a Amazônia Legal-, onde a sua maior
população vive no urbano e em extrema pobreza,
“A gente precisa
falar da Amazônia na sua complexidade. Falar da Amazônia em uma eleição é um
compromisso de soberania, mas essa soberania precisa ser vista não só em cima
da imagem de um território vazio de gente, ou em cima de uma imagem de
singularizar com uma carga de que naquele território a existência dele está
toda sobre responsabilidade dos povos indígenas”, destaca.
“Se é território de soberania nacional, a existência dele hoje está sob responsabilidade dos povos indígenas, como os povos originários, e responsabilidade de uma população negra e de mulheres que vivem nas cidades da Amazônia. Para proteger a floresta a gente vai precisar também eliminar as desigualdades urbanas da Amazônia. Não ter um debate sobre desigualdades urbanas na Amazônia é não ter um debate real sobre proteção da floresta hoje”, finaliza o coordenador da Pesquisa Amazônia Legal Urbana. (Fernanda Rosário - JB/Ag. Brasil)
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