Ela teve uma
dor de estômago antes de pegar o avião, mas não deu muita importância e se
sentiu melhor após pousar. Durante a noite, ela piorou e acabou no hospital.
Na manhã
seguinte, ela já não reconhecia mais a mãe, seus rins pararam de funcionar, ela
teve inchaço no cérebro e convulsões.
Seus pais
providenciaram uma evacuação médica de emergência para os Estados Unidos, onde
confirmaram que ela tinha uma infecção bacteriana grave: E. coli.
Seu estado
piorou durante a noite, ela entrou em coma e um padre foi chamado para fazer
uma oração final.
Stephanie é
uma das principais personagens do documentário da Netflix, que analisa como
falhas na higiene alimentar podem levar a consequências verdadeiramente
desastrosas para os consumidores.
Quando o padre
começou a rezar, os olhos de Stephanie se abriram. Ela sobreviveu, mas sofrerá
as consequências do contato com o E. coli pelo resto de sua vida.
"Tenho
que tomar remédios todos os dias para tentar melhorar o funcionamento dos meus
rins", diz ela no documentário.
"Existe a
possibilidade de eu ter que fazer um transplante de rim. Talvez eu tenha que
fazer diálise pelo resto da minha vida."
"Eu comi
uma salada e agora tenho efeitos de longo prazo na saúde."
Stephanie é
uma das 600 milhões de pessoas que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima
que adoecem todos os anos devido à ingestão de alimentos contaminados.
Felizmente, ela não foi uma das 420 mil que morrem anualmente.
E se prestar
atenção no que se come é a melhor forma de evitar a contaminação, aqui vão
algumas dicas de Bill Marler para se manter saudável.
Leite e sucos
sem pasteurização
A experiência
de Marler o ensinou a evitar produtos lácteos crus ou não pasteurizados e sucos
não pasteurizados.
O risco está
na contaminação pela mesma bactéria E. coli que abateu Stephanie.
"Quaisquer
benefícios à saúde do leite não pasteurizado simplesmente não valem o risco. As
pessoas se esqueceram das doenças que existiam no século 19", diz Bill
Marler.
Brotos crus
Marler não
come brotos crus, como alfafa, feijão mungu ou brotos de feijão.
Eles têm sido
associados a alguns dos maiores surtos de doenças de origem alimentar do mundo.
Em 2011, um
surto relacionado a sementes de feno grego resultou em até 900 pessoas com
insuficiência renal e mais de 50 mortes na Alemanha.
"As
sementes ficam contaminadas à medida que crescem ao ar livre. Quando você as
traz para dentro e as coloca em um bom banho de água para brotá-las, é um meio
perfeito para o crescimento bacteriano", diz Marler.
"Não
conheço ninguém na indústria de segurança alimentar que coma brotos crus."
Carne mal
passada
Bactérias que
estejam na superfície da carne são misturadas durante a produção de carne moída
ou picada. É por isso que é importante cozinhar bem um hambúrguer, por exemplo.
E não são
necessárias muitas bactérias para provocar uma infecção.
"Cerca de
50 bactérias E. coli são suficientes para matar e100.000 cabem na cabeça de um
alfinete. Não é algo que você possa ver, provar ou cheirar. Cozinhar
hambúrgueres completamente é a única maneira segura [de evitar o risco]",
diz Marler.
Ele recomenda
que o hambúrguer seja cozido a uma temperaturade 69º C para eliminar quaisquer
patógenos.
Quando se
trata de bifes, normalmente há menos perigo, pois as bactérias que estão na
superfície da carne acabam morrendo durante o processo de cozimento.
Frutas e
legumes pré-lavados e pré-cozidos
"Quando
você come um hambúrguer, a parte mais perigosa não é o hambúrguer em si. Mas a
cebola, a alface e os tomates", diz Mansour Samadpour, consultor de
segurança alimentar do documentário da Netflix.
Em 2006, um
grande surto de E. coli ligado ao espinafre deixou 200 pessoas doentes e até
cinco pessoas mortas nos EUA. Marler representou a maioria dos envolvidos.
Uma
investigação posterior ligou a contaminação bacteriana a uma fazenda de
espinafre na Califórnia que, após a invasão de algum animal nas plantações,
teve suas verduras contaminados por fezes com E. coli.
Quando os
espinafres foram cortados e lavado três vezes, essa bactéria se espalhou entre
os produtos e acabou sendo enviada para todo o país, deixando muitas pessoas
doentes.
"A
conveniência de ter alguém lavando sua alface vale o risco de mais pessoas
manuseando as folhas? Se mais pessoas manusearem a alface e ela estiver
contaminada, ela se espalha rapidamente", diz Marler.
Ovos crus ou
mal cozidos
O perigo dos
ovos vem da infecção por salmonela, uma bactéria comum que pode causar
diarreia, febre, vômito e cólicas estomacais. Pessoas muito jovens ou muito
velhas podem ficar gravemente doentes e até morrer.
Diversos
eventos desastrosos envolvendo ovos foram registrados na história recente: em
1988, o medo da salmonela levou o governo do Reino Unido a ordenar o abate de
mais de 2 milhões de frangos.
Em 2010, uma
ameaça semelhante causou o recolhimento de 500 milhões de ovos nos Estados
Unidos.
Marler diz que
os ovos são mais seguros hoje do que eram antes, mas ele pede cautela pois a
salmonela ainda representa um risco para os consumidores de ovos crus ou mal
cozidos.
"Cerca de
1 em 10.000 ovos tem salmonela dentro da casca. A galinha pode desenvolver salmonela
no ovário - ela entra no ovo e você não pode fazer nada além de
cozinhá-la."
Ostras e
outros mariscos crus
O risco das
ostras e outros mariscos crus é que eles são filtradores.
Isso significa
que se houver uma infecção bacteriana ou viral na água, ela entrará facilmente
na cadeia alimentar.
E segundo
Marler, o problema está sendo agravado pelo aquecimento global.
"Com o
aquecimento dos oceanos, ocorre um aumento nos eventos de contaminação
relacionados às ostras: hepatite, norovírus, etc. Sou de Seattle e algumas das
melhores ostras do mundo vêm do noroeste do Pacífico, mas há claramente
problemas acontecendo com a qualidade da nossa água e a temperatura. É um novo
fator de risco que você deve levar em consideração ao pedir ostras cruas",
diz ele.
Sanduíches
embalados
"Você
deve verificar cuidadosamente as datas de validade dos sanduíches e, de
preferência, comer alimentos que você mesmo prepara ou que são preparados na
hora", aconselha Marler.
Ele adverte
que a validade do sanduíche é o principal fator de risco e que alimentos
vencidos podem levar à exposição à listeria montocytogenes - uma bactéria muito
desagradável.
Segundo ele,
esses bacilos são grandes assassinos nos Estados Unidos e em todo o mundo e tem
a capacidade de mandar todos que o ingerem para o hospital.
"A
listeria cresce muito bem na temperatura da geladeira, então se alguém fizer um
sanduíche para você e você o comer quase imediatamente, o risco de listeria é
baixo. Mas se ficar guardado na geladeira por uma semana antes de você comer,
isso dará a chance de ele crescer em quantidade suficiente para causar uma
infecção", diz ele.
Mas sushi é
normalmente seguro
Mas um
alimento sobre o qual as pessoas costumam ser céticas e que não preocupa muito
Marler é o sushi. O especialista, no entanto, admite que é preciso ter atenção
sobre onde comprar o peixe.
"Vou com
mais frequência a um bom restaurante de sushi do que a uma churrascaria. O
risco de contaminação por peixe não é tão alto", diz ele.
"Eu não
compro sushi em uma mercearia ou posto de gasolina. Um bom restaurante de sushi
é bastante seguro, pois os peixes têm baixo risco quando se trata de infecções
bacterianas. É um perfil de risco com o qual me sinto mais confortável",
diz ele.
(BBC)
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