Passei pela segurança incrivelmente rígida desta instalação remota para obter acesso raro aos cientistas de Porton Down, perto da cidade inglesa de Salisbury. Eles estão baseados no novo Centro de Avaliação e Desenvolvimento de Vacinas.
A partir das experiências e do conhecimento
acumulado durante a pandemia do SARS-CoV-2, o centro quer salvar vidas e
minimizar a necessidade de isolamento social quando uma nova pandemia chegar.
"A covid-19, é claro, não foi um caso
isolado", diz a professora Jenny Harries, diretora-executiva da Agência de
Segurança em Saúde do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês), que administra o
centro de pesquisa.
“Dizemos que [a covid] foi o maior acontecimento na
saúde pública em um século, mas não acho que nenhum de nós pense que demorará
um século para que a próxima [pandemia] chegue."
Porton Down é um dos poucos lugares no mundo
equipados para fazer pesquisas com alguns dos vírus e bactérias mais perigosos
que você pode imaginar. Os congeladores lá contêm patógenos como o Ebola.
Nos prédios ao lado do centro de pesquisa,
funcionam instituições como o Laboratório de Ciência e Tecnologia de Defesa
(parte do Ministério da Defesa), onde foi confirmado que a substância
novichok foi usada nos envenenamentos de um casal britânico encontrado
inconsciente em Salisbury.
Já o Centro de Desenvolvimento e Avaliação de
Vacinas foi construído às pressas como parte da resposta à covid.
Mas, à medida que as intensas demandas da pandemia
diminuíram, o foco mudou.
O centro de pesquisas com vacinas está se
concentrando em três tipos de ameaças:
·
infecções conhecidas que
estão ficando mais difíceis de tratar, como de superbactérias resistentes a
antibióticos;
·
ameaças que podem causar
novos problemas, como a gripe aviária e novas variantes da covid-19;
· e a "doença X": algo imprevisto, como a covid, que pode pegar o mundo de surpresa.
Cientistas de Porton Down estão trabalhando na
primeira vacina contra a febre hemorrágica da Crimeia-Congo, que é transmitida
por carrapatos e mata cerca de um terço das pessoas infectadas.
A doença é encontrada na África, nos Bálcãs, no
Oriente Médio e na Ásia — e pode se espalhar ainda mais com as mudanças
climáticas.
Na outra ponta do processo, é avaliada a eficácia
das vacinas. Foram os cientistas daqui que descobriram que a variante ômicron
poderia contornar parte da proteção oferecida pelas vacinas de covid.
E eles ainda estão monitorando novas variantes da
covid, cultivando-as em laboratório, expondo-as a anticorpos retirados de
amostras de sangue e verificando se novas variantes ainda são capazes de
infectar.
Enquanto isso, o centro faz parte da linha de
frente no monitoramento do maior surto de gripe aviária do mundo.
O vírus da influenza aviária H5N1 devastou
populações de aves, e testes de rotina em trabalhadores rurais encontraram os
primeiros casos assintomáticos em pessoas no Reino Unido.
A diferença é que, antes da pandemia, as equipes
conseguiam testar apenas 100 amostras por semana — agora, a capacidade é
superior a 3 mil.
Vacinas mais rápidas
O laboratório trabalha com o projeto "Missão
100 dias" — um objetivo extremamente ambicioso para desenvolver uma vacina
contra uma nova ameaça em 100 dias.
Historicamente, é necessária uma década para
projetar e testar novas vacinas. As circunstâncias únicas da pandemia — e do
conhecimento científico contemporâneo — fizeram com que as primeiras vacinas
contra a covid-19 fossem produzidas em um ano.
Estimativas sugerem que as vacinas de covid-19
salvaram mais de 14 milhões de vidas apenas nos primeiros 12 meses em que foram
usadas.
"Imagine se essas vacinas estivessem
disponíveis um pouco antes", diz a professora Isabel Oliver, diretora
científica da UKHSA.
“Elas ficaram disponíveis mais rapidamente do que
nunca na história, [mas] poderíamos ter salvado muito mais vidas e poderíamos
ter retornado à normalidade muito mais rapidamente”.
A esperança é que as lições da pandemia de
coronavírus nos tornem mais preparados da próxima vez.
Harries diz que, no passado, estávamos simplesmente
reagindo aos incidentes, mas no futuro precisamos estar na frente e
"tentar parar" qualquer pandemia antes mesmo de ela começar.
(BBC)
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