segunda-feira, 7 de agosto de 2023
Pesquisadores da Fiocruz criam método para detectar hepatite D
O estudo que levou ao desenvolvimento do método molecular
foi conduzido em parceria com três instituições acrianas: a Fundação Hospital
Estadual do Acre (Fundhacre), o Centro de Infectologia Charles Mérieux e a
Universidade Federal do Acre (UFAC). Ao todo, estiveram envolvidos 16
pesquisadores. Os resultados constam em um artigo científico publicado na
semana passada na revista Scientific Reports da Nature, publicação de
referência internacional nas áreas das ciências naturais, psicologia, medicina
e engenharia.
Segundo a pesquisadora da Fiocruz Rondônia e coordenadora
do estudo, Deusilene Dallacqua, atualmente o diagnóstico da hepatite D no SUS é
realizado por meio de exame de sangue que permite apenas a detecção de
anticorpos contra o vírus. Dessa forma, é possível confirmar que a pessoa já
foi contaminada. O método molecular desenvolvido, no entanto, poderá oferecer
informações mais detalhadas. Por meio da amostra de sangue, ele possibilita a
detecção do próprio vírus confirmando que a pessoa está infectada naquele
momento exato. Também permite quantificar a carga viral, oferecendo à equipe
médica informações sobre a evolução do quadro clínico. Os resultados podem ser
obtidos em 24 ou 48 horas.
Deusilene Dallacqua observa que a ausência de um exame
similar nos laboratórios de referência do país dificulta o conhecimento da real
prevalência, a melhor compreensão do comportamento do vírus e o direcionamento
médico mais adequado. "A partir do resultado, você consegue auxiliar na
conduta clínica desse paciente. Avaliar se vai ser necessário um tratamento ou
se vai ser necessário um monitoramento. Pode ser marcada uma consulta em seis
meses para ver como está a evolução da doença."
Como as demais hepatites virais, a hepatite D é uma
infecção que afeta o fígado. A transmissão se dá pelo contato com sangue e
outros fluidos corporais de um paciente contaminado. Isso pode ocorrer, por
exemplo, por meio do uso dos mesmos materiais de higiene pessoal, da transfusão
de sangue, de compartilhamento de seringas e de relações sexuais sem
preservativo. De acordo com o Ministério da Saúde, a doença se desenvolve
quando o organismo da pessoa infectada carrega também o vírus da hepatite B.
Isso porque vírus da hepatite D necessita de um antígeno existente no vírus da
hepatite B para se replicar.
A doença é endêmica na Amazônia e pode gerar uma infecção
no fígado mais grave. De acordo com dados do Ministério da Saúde, foram
diagnosticados 4.259 casos de hepatite D no Brasil entre 2000 e 2021, dos quais
73,7% foram na Região Norte. Mais da metade dos indivíduos infectados no país
possuía idade entre 20 a 39 anos.
Deusilene Dallacqua, no entanto, afirma que existe uma alta
subnotificação da doença. Ela lembra que mesmo o exame voltado para a detecção
de anticorpos só está disponível em estados endêmicos e, inclusive nesses
locais, a população diagnosticada representa somente parcela dos casos. Ela
estima que apenas no Acre e em Rondônia há aproximadamente 2 mil pessoas com
hepatite D em sua forma crônica, quando a infecção dura mais de seis meses.
"O portador crônico pode ser um portador para o resto da vida. Mas também
podem ter evoluções. Pode evoluir para uma fibrose ou uma cirrose. E uma
pequena parcela pode evoluir para um hepatocarcinoma celular, um câncer
hepático", explica Deusilene.
De acordo com a pesquisadora, a doença em sua forma crônica
costuma ser silenciosa. A infecção pode se manifestar também em sua forma
aguda. Nesse caso, são comuns sintomas variados como pele amarelada, vômito,
enjoo e mal-estar. Em alguns desses casos, pode ocorrer a evolução para a
chamada hepatite fulminante. Não existem vacinas específicas para o vírus da
hepatite D, mas a imunização contra a hepatite B atua na prevenção da doença.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário