Produzido por um dos braços da ONU, o Mapa da Fome estima que 111 países no mundo enfrentam situação crônica de falta de alimento — ou seja, fome.
O indicador leva em conta a chamada prevalência de subalimentação —
condição em que os alimentos consumidos são insuficientes para manter uma vida
ativa e saudável. Entram para o Mapa da Fome os países nos quais a
situação atinge mais de 2,5% da população.
Os dados são abastecidos por relatórios anuais da Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), produzidos desde a
década de 1990. O material permite avaliar o progresso ou o retrocesso de
políticas para erradicação da fome e da pobreza extrema.
As pesquisas também funcionam como termômetro do cumprimento das metas
globais estabelecidas pela ONU para zerar a fome e garantir que, especialmente
as populações vulneráveis, tenham acesso a alimentos seguros e nutritivos.
No
Brasil, os relatórios têm indicado retrocesso desde 2019. A tendência e os
dados verificados levaram o país a retornar ao Mapa da Fome em 2022,
oito anos depois de deixar a lista.
O levantamento mais recente da FAO, realizado entre os anos de 2020 e
2022, mostra que 10,1 milhões de brasileiros estavam em
situação de fome. Outros 21,1 milhões, em condições de
insegurança alimentar grave — isto é, quando pode faltar comida
durante um dia ou mais.
De acordo com os dados:
-
entre 2019 e 2021: 3,7% dos brasileiros estavam subalimentados — 1,2
pontos percentuais acima do limite global
-
entre 2020 e 2022: a situação crônica de fome afetou 4,7% da população brasileira —
2,2 pontos percentuais acima do limite global
O cenário preocupa o governo federal. O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) tem repetido, por diversas vezes, que a sua gestão deverá adotar medidas para combater a insegurança alimentar e
retirar o Brasil do Mapa da Fome.
Ex-ministro de Combate à Fome e diretor-geral da FAO de 2012 a 2019,
José Graziano avalia que a situação atual do país é desafiadora. Segundo ele, o
número revelado pela FAO jamais havia sido alcançado e mostra que a fome tem se
espalhado pelos centros urbanos.
"A situação do Brasil hoje é infinitamente mais complicada do que
em 2003 [quando foi lançado o Fome Zero]. Do lado quantitativo, temos um número
muito maior de pessoas passando fome. A fome em 2003 se concentrava no Nordeste
e nos pequenos municípios do Nordeste. Era uma fome rural. O fato da fome ter
se tornado urbana e ter se generalizado é um problema."
Graziano afirma que o cenário revelou camadas adicionais à fome. Segundo
ele, é possível dizer que há fome de não comer e fome de comer mal.
"Com a pandemia, o custo dos alimentos aumentou muito. E, com isso,
aumentou a quantidade daqueles que precisaram substituir um alimento de
qualidade por outro de má qualidade", disse.
Novo programa
Buscando ampliar as iniciativas de combate à fome, o presidente Lula e o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington
Dias, vão lançar nesta quinta-feira (31) um novo programa.
Batizada de "Brasil Sem Fome", a iniciativa vai reunir 80
ações e prevê a mobilização da União, estados e municípios.
Serão três eixos:
- acesso à renda, ao trabalho e à cidadania
- promoção da alimentação adequada e saudável, da produção ao consumo
- e mobilização para o combate à fome
A meta do plano é tirar o Brasil do Mapa da Fome até 2030. Além disso,
prevê reduzir a menos de 5% o percentual de domicílios em situação de
insegurança alimentar grave.
"A pobreza não é o problema de um presidente da República, é um
problema do país inteiro. O sossego das pessoas, da classe média, da classe
alta, depende do bem-estar, do bem viver, das pessoas mais pobres",
afirmou Wellington Dias.
(g1)
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