O ensino profissionalizante é apontado por especialistas como
uma importante via de acesso a postos bem remunerados no mercado de trabalho (leia mais abaixo). Ainda assim, segundo os números
divulgados nesta terça-feira (12) no relatório "Education at a Glance
2023", a modalidade ainda é pouco representativa entre os jovens
brasileiros:
No Brasil: 11% dos
alunos do ensino médio de 15 a 19 anos estão matriculados em programas
profissionais (o percentual é o mesmo para jovens de 20 a 24 anos, que estão em
cursos técnicos de institutos federais, por exemplo).
Nos países da OCDE: 37% dos
alunos do ensino médio de 15 a 19 anos estão matriculados em programas
profissionais. Na faixa etária de 20 a 24 anos, a taxa sobe para 65%.
A atual edição do estudo ainda destaca outros dados que colocam
o Brasil ainda muito distante dos membros da OCDE: alta porcentagem de jovens
'nem-nem' e baixos investimentos do governo por aluno.
Veja abaixo:
Geração
nem-nem':
Considerando os jovens de 18 a
24 anos, 24,4% dos brasileiros não trabalham nem estudam. Entre os países da
OCDE, o índice é bem menor: de 14,7%.
Segundo Priscila Cruz, presidente executiva da ONG Todos Pela
Educação, é preciso reforçar que não são pessoas que "passam o dia
olhando para o teto, mexendo em redes sociais".
"Esses jovens tornam-se invisíveis, porque estão fazendo
atividades domésticas, cuidando dos irmãos para que a mãe possa trabalhar ou
desempenhando funções sem registro na carteira de trabalho", afirma.
Ela ainda elenca outros dois motivos que levam os brasileiros a
essa situação:
- evasão escolar, que é
causada pela falta de vínculo com o colégio e pela crescente dificuldade de
acompanhar o que é ensinado a cada ano;
- gravidez precoce, responsável
por elevar ainda mais os números da geração 'nem-nem' entre as mulheres: 30%,
em relação a 18,8% entre os homens.
Baixo investimento do governo por aluno:
O relatório mostra também quanto cada país investe, por aluno,
em educação básica. O Brasil, com 3.583 dólares anuais (cerca de R$ 17,7 mil
reais), é o terceiro pior do ranking entre membros da
OCDE e parceiros: fica à
frente apenas do México (2.702 dólares) e da África do Sul (3.085 dólares).
Os líderes são Luxemburgo (26.370 dólares), Suíça (17.333
dólares) e Bélgica (16.501 dólares).
"Falta dinheiro e falta boa gestão. Precisamos investir na
formação continuada de professores, na alimentação escolar que dê 'combustível'
para o cérebro das crianças, na conectividade nas escolas, na compra de materiais
e na educação integral", diz Priscila Cruz.
"A meta não deve ser gastar mais, e sim alocar corretamente
[os recursos] no que vai gerar aprendizado. Precisamos de transporte, de
escolas com biblioteca, teatro, sala de música e quadro. Não é só investir o
que a OCDE investe."
Ensino profissionalizante ainda é alvo de preconceito
O relatório aponta que há um desafio mesmo entre os países com sistemas de
ensino mais estruturados: fazer a integração da escola regular com a prática.
"Programas escolares e práticos combinados permanecem raros
em muitos países. Em média, apenas 45% de todos os estudantes de educação
profissionalizante do ensino médio superior estão matriculados em tais
programas em toda a OCDE", afirma o relatório.
Priscila Cruz, do Todos Pela Educação, diz que existe um
preconceito relacionado ao ensino técnico, como se ele significasse
necessariamente "a linha de chegada" do aluno. Ele é apenas o
primeiro passo para a profissionalização.
"[O estudante] pode continuar se desenvolvendo depois. E
precisamos romper com a ideia de que a educação técnica é para pobres que serão
operários e que a universidade é para a elite. Essa divisão histórica permanece
no imaginário dos brasileiros. Temos de entender que o ensino
profissionalizante é uma estratégia de desenvolvimento. Existe demanda por
jovens qualificados", afirma.
O próprio relatório da OCDE lembra que o Congresso Nacional
brasileiro aprovou, em 2023, a Lei 14.645/2023, que estabelece que o Brasil precisa formular e
implementar, dentro de dois anos, uma política nacional de educação
profissional e tecnológica articulada com o Plano Nacional de Educação (PNE).
O que é o relatório 'Education at a Glance 2023'?
Divulgado anualmente pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), o relatório “Education at a Glance” reúne e
compara os principais indicadores internacionais ligados à educação.
Os números mostram a realidade de quase 50 países, incluindo membros e parceiros da OCDE. O Brasil é um dos parceiros da organização. Os dados são fornecidos pelos próprios países e comparáveis em um mesmo ano (a entidade não indica comparações entre anos distintos, porque pode haver mudanças nas metodologias de cálculos).
(g1)
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