quarta-feira, 13 de setembro de 2023

3º 'pior país' em investimentos por aluno e poucos jovens no ensino profissionalizante: por que o Brasil fica tão distante da OCDE

No Brasil, o total de jovens matriculados na educação voltada para a formação profissional é inferior à média verificada entre os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - um grupo de países que é referência em desenvolvimento humano e PIB per capita (produto interno bruto por habitante).

O ensino profissionalizante é apontado por especialistas como uma importante via de acesso a postos bem remunerados no mercado de trabalho (leia mais abaixo). Ainda assim, segundo os números divulgados nesta terça-feira (12) no relatório "Education at a Glance 2023", a modalidade ainda é pouco representativa entre os jovens brasileiros:

No Brasil: 11% dos alunos do ensino médio de 15 a 19 anos estão matriculados em programas profissionais (o percentual é o mesmo para jovens de 20 a 24 anos, que estão em cursos técnicos de institutos federais, por exemplo).

Nos países da OCDE: 37% dos alunos do ensino médio de 15 a 19 anos estão matriculados em programas profissionais. Na faixa etária de 20 a 24 anos, a taxa sobe para 65%.

A atual edição do estudo ainda destaca outros dados que colocam o Brasil ainda muito distante dos membros da OCDE: alta porcentagem de jovens 'nem-nem' e baixos investimentos do governo por aluno.

Veja abaixo:

Geração nem-nem':

Considerando os jovens de 18 a 24 anos, 24,4% dos brasileiros não trabalham nem estudam. Entre os países da OCDE, o índice é bem menor: de 14,7%.

Segundo Priscila Cruz, presidente executiva da ONG Todos Pela Educação, é preciso reforçar que não são pessoas que "passam o dia olhando para o teto, mexendo em redes sociais".

"Esses jovens tornam-se invisíveis, porque estão fazendo atividades domésticas, cuidando dos irmãos para que a mãe possa trabalhar ou desempenhando funções sem registro na carteira de trabalho", afirma.

Ela ainda elenca outros dois motivos que levam os brasileiros a essa situação:

- evasão escolar, que é causada pela falta de vínculo com o colégio e pela crescente dificuldade de acompanhar o que é ensinado a cada ano;

- gravidez precoce, responsável por elevar ainda mais os números da geração 'nem-nem' entre as mulheres: 30%, em relação a 18,8% entre os homens.

Baixo investimento do governo por aluno:

O relatório mostra também quanto cada país investe, por aluno, em educação básica. O Brasil, com 3.583 dólares anuais (cerca de R$ 17,7 mil reais), é o terceiro pior do ranking entre membros da OCDE e parceiros: fica à frente apenas do México (2.702 dólares) e da África do Sul (3.085 dólares).

Os líderes são Luxemburgo (26.370 dólares), Suíça (17.333 dólares) e Bélgica (16.501 dólares).

"Falta dinheiro e falta boa gestão. Precisamos investir na formação continuada de professores, na alimentação escolar que dê 'combustível' para o cérebro das crianças, na conectividade nas escolas, na compra de materiais e na educação integral", diz Priscila Cruz.

"A meta não deve ser gastar mais, e sim alocar corretamente [os recursos] no que vai gerar aprendizado. Precisamos de transporte, de escolas com biblioteca, teatro, sala de música e quadro. Não é só investir o que a OCDE investe."

Ensino profissionalizante ainda é alvo de preconceito

O relatório aponta que há um desafio mesmo entre os países com sistemas de ensino mais estruturados: fazer a integração da escola regular com a prática.

"Programas escolares e práticos combinados permanecem raros em muitos países. Em média, apenas 45% de todos os estudantes de educação profissionalizante do ensino médio superior estão matriculados em tais programas em toda a OCDE", afirma o relatório.

Priscila Cruz, do Todos Pela Educação, diz que existe um preconceito relacionado ao ensino técnico, como se ele significasse necessariamente "a linha de chegada" do aluno. Ele é apenas o primeiro passo para a profissionalização.

"[O estudante] pode continuar se desenvolvendo depois. E precisamos romper com a ideia de que a educação técnica é para pobres que serão operários e que a universidade é para a elite. Essa divisão histórica permanece no imaginário dos brasileiros. Temos de entender que o ensino profissionalizante é uma estratégia de desenvolvimento. Existe demanda por jovens qualificados", afirma.

O próprio relatório da OCDE lembra que o Congresso Nacional brasileiro aprovou, em 2023, a Lei 14.645/2023, que estabelece que o Brasil precisa formular e implementar, dentro de dois anos, uma política nacional de educação profissional e tecnológica articulada com o Plano Nacional de Educação (PNE).

O que é o relatório 'Education at a Glance 2023'?

Divulgado anualmente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o relatório “Education at a Glance” reúne e compara os principais indicadores internacionais ligados à educação.

Os números mostram a realidade de quase 50 países, incluindo membros e parceiros da OCDE. O Brasil é um dos parceiros da organização. Os dados são fornecidos pelos próprios países e comparáveis em um mesmo ano (a entidade não indica comparações entre anos distintos, porque pode haver mudanças nas metodologias de cálculos). 

(g1)

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