No domingo, Elder visitou a parte norte do território, a mais atingida pelos ataques de Israel em resposta ao assassinato e sequestro de israelenses pelo Hamas em 7 de outubro.
"Quando um
morteiro atinge seu prédio, sua casa, são múltiplas as lesões causadas em uma
criança. São ossos quebrados, mas também são [feridas de] estilhaços, são
queimaduras horríveis para as crianças", acrescentou.
Elder descreveu os
hospitais no norte da Faixa de Gaza como "zonas de guerra", onde
estacionamentos e espaços ao ar livre estão repletos de salas de emergência
improvisadas.
"As crianças
nos hospitais precisam de muito mais suprimentos médicos do que os que
recebemos. (...) Os médicos precisam desses itens com urgência. Estou vendo
médicos nas salas de emergência tomando decisões enquanto fazem um cálculo
entre quem pode sobreviver e quem não sobrevive, e isso inclui crianças",
disse Elder.
Na sexta-feira
(24/11), Israel e o Hamas iniciaram uma trégua de quatro dias, que foi
prolongada por mais dois na segunda-feira.
Durante esse
período, foi realizada a troca de mais de 50 reféns detidos pelo Hamas, por 150
palestinos que estavam detidos em prisões israelenses, a maioria deles por
ataques violentos contra as forças de segurança israelenses.
Os grupos incluem
principalmente mulheres e menores.
"Estive ontem
numa igreja no norte, num hospital que também foi atingido [por projéteis]. É
uma sala de emergência. Falei com um menino de 7 anos, que perdeu a mãe, perdeu
o pai e o irmão gêmeo. E perguntei à tia dele: 'Por que ele está constantemente
fechando os olhos enquanto fala?' E ela disse: 'Ele está com tanto medo de
esquecer como sua mãe e seu pai eram que ele quer fechar os olhos e continuar a
'imaginá-los, não os perder em sua mente como os perdeu na vida real'",
narrou Elder.
"Infelizmente,
estas histórias estendem-se de norte a sul por toda a Faixa de Gaza",
disse ele.
Entre o início do
conflito e 22 de novembro, estima-se que mais de 5.300 crianças tenham morrido
na Faixa de Gaza em consequência da guerra, segundo números divulgados pela
Unicef.
A organização de
defesa das crianças também disse ter relatos de que cerca de 1.200 crianças
ainda estão sob os escombros.
“A destruição de
Gaza e o assassinato de crianças não trarão paz à região”, disse Elder.
Do lado
israelense, o governo relatou cerca de 1.200 mortes nas mãos do grupo islâmico
Hamas.
“Hoje, a Faixa de
Gaza é o lugar mais perigoso do mundo para ser criança”, declarou a diretora
executiva do UNICEF, Catherine Russell, diante do Conselho de Segurança da ONU
na quarta-feira, 22 de novembro.
Elder questionou
se o mundo está perdendo o “impulso natural” de proteger as crianças e pediu
que Israel proteja os mais jovens.
“Tragam os reféns
para casa, mas certifiquem-se de que não vejamos uma devastação contínua para
as crianças em Gaza”, disse ele.
'Você está aqui para
parar a guerra?'
O funcionário da
Unicef descreveu o cenário que viu na Faixa de Gaza como “realmente difícil”.
“É apenas trauma e
estresse. A ansiedade está estampada no rosto das pessoas”, disse Elder.
"As pessoas
estão desesperadas, perderam tudo. Perderam as suas casas. Quase todas as
pessoas com quem falo perderam um ente querido", acrescentou.
Elder descreveu a
trégua acordada entre as partes como “uma trégua em que as pessoas procuram os
seus entes queridos, os seus filhos perdidos” e que deseja que a pausa vire um
cessar-fogo.
O funcionário da
Unicef disse que durante sua passagem por essa zona do território palestino,
pessoas aproximaram-se dele e perguntaram, em inglês: “Estás aqui para parar a
guerra?”
"É claro que
minha resposta é: 'Não. Sua vida é decidida por pessoas de outros lugares.
Estamos aqui para entregar ajuda e acredito que para estancar o
sangramento'".
Segundo Elder, as
três coisas que os moradores de Gaza pedem são comida, água e combustível. Este
último é utilizado em centrais de dessalinização para o fornecimento de água
potável à população.
"Isso é um
ponto de virada. Agora vejo muitas crianças com doenças gastrointestinais
graves, então a água limpa muda as regras do jogo, e o combustível equivale a
água limpa", disse ele.
O funcionário da
Unicef disse ter visto tanto “avós carregando os netos”, quanto “crianças
empurrando idosos e doentes em cadeiras de rodas,” fugindo do norte ao sul da
Faixa de Gaza.
Mas ele ressaltou
que é difícil, para eles, tomar a decisão de largar tudo e ir embora.
“As pessoas
simplesmente não querem sair de casa e eu entendo o porquê. Quem quer deixar
sua casa e tudo pelo que tanto trabalhou, especialmente quando você vai vir
para o sul e estar no que era uma escola ou um faculdade técnica, e agora são
40 mil pessoas, onde sua filha de 15 anos ficará numa fila por cinco horas para
usar o banheiro?", disse ele.
(Fonte: BBC)
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