A jornalista e atriz
Natália Gadioli, está grávida pela segunda vez e vai tomar a dTpa assim
que atingir o tempo recomendado, de 20 semanas de gestação. Ela alerta, no
entanto, sobre o que pode estar afastando as gestantes das salas de
vacina. “Infelizmente, a gente vê muita fake
news, muita desinformação, que tenta assustar as pessoas. E isso
acaba prejudicando individualmente e coletivamente. É uma pena,
sempre que posso tento combater de alguma forma e defender a vacina para
todos. Especialmente nessa fase de gestação, quando é muito
importante a gente se cuidar e proteger o bebê”.
O diretor da
Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, explica que a chamada
hesitação vacinal é causada por muitos fatores. O maior deles é a falta de
percepção de risco. No auge da pandemia, com 4 mil mortes por dia, todo mundo
queria se vacinar contra a covid-19, por exemplo. Hoje, que o número de vítimas
é menor, mas ainda soma centenas por semana, é difícil atingir a cobertura das
doses de reforço. Cunha chama a atenção para o desafio da comunicação em
tempos de infodemia - a pandemia de desinformação. Especialmente porque
até profissionais da saúde têm disseminado discurso contra as vacinas, o que
tem atingido em cheio as grávidas e os responsáveis por crianças.
“Se eu chego a ter
70%, 75% [de cobertura], significa que tenho ali uns 20% hesitantes. E é
com esses hesitantes que a gente tem que falar. Por isso, é preciso preparar
muito bem os profissionais da rede, que têm que saber responder, têm
que estar bem informados. Se um médico te diz que não deve fazer de jeito
nenhum e você chega a uma unidade de saúde e repassa essa informação, como
é que o profissional vai questionar isso? Ele tem que estar muito bem
informado”, afirma Cunha.
A última vez que o
Brasil teve um surto de coqueluche foi em 2014, mas o Ministério da Saúde
alertou, na semana passada, que vários países têm registrado aumento de
casos e essa onda pode chegar por aqui. Até o começo de abril, foram 31
infecções comprovadas, e mais de 80% delas em bebês de até seis meses. O
Sistema Único de Saúde (SUS) também vacina os bebês contra a coqueluche,
mas apenas a partir dos dois meses de idade, completando o esquema aos
seis meses. Ou seja, as maiores vítimas da coqueluche dependem totalmente
da vacinação na gravidez para não adoecer.
Para
a ginecologista Nilma Neves, os profissionais que acompanham o pré-natal
devem não somente prescrever as vacinas, mas também conferir se elas foram
tomadas e questionar as grávidas sobre suas dúvidas e receios. Até
porque muitas têm medo de tomar qualquer substância ou remédio e
acabar afetando o bebê. Nilma é vice-presidente da Comissão de Vacinas
da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia
(Febrasgo) e chama a atenção para outro grande problema que tem afetado as
coberturas vacinais
“As salas de vacinas
dos postos de saúde não abrem aos sábados e muitas gestantes trabalham. Ela não
consegue ir durante a semana. E até mesmo quando vão fazer o pré-natal,
acontece de alguns postos só terem a técnica de enfermagem especializada em
vacinas, de manhã ou só à tarde. Então, isso dificulta o acesso da gestante
para tomar as vacinas”.
No caso da vacina
contra a gripe, nem o chamado Dia D, com aplicação aos sábados,
consegue fazer com que a meta de cobertura seja alcançada.
Atualmente, as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste estão em
campanha. Mais de 1,7 milhão de grávidas fazem parte do público alvo e nem
um quarto delas se vacinou. O imunizante protege contra três cepas do vírus Influenza. Ao contrário do que muitos
pensam, não é só um resfriadinho. A influenza é um dos principais causadores da
Síndrome Respiratória Aguda Grave, que pode levar à morte, especialmente de
pessoas vulneráveis, como bebês e grávidas.
Outro grande causador
da síndrome é a covid-19, que também pode provocar inflamação em diversas
partes do corpo. Há evidências de relação entre a covid e efeitos como aborto
espontâneo, restrição de crescimento no útero e parto prematuro.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já identificou que o número de mortes
entre grávidas ou pessoas que acabaram de dar à luz nos dois primeiros anos da
pandemia foi quase 70% a mais do que o habitual. Ainda assim, a vacina contra a
covid-19 encontra grande resistência. Gestantes e puérperas devem tomar a nova
vacina monovalente xbb da Moderna, que está sendo aplicada pelo SUS.
A diretora
médica de vacinas da América Latina da Adium, farmacêutica que distribui o
imunizante no Brasil, Glaucia Vespa, explica por que elas não devem
ter medo. “Quando a gente desenvolve uma vacina, temos etapas. A primeira
é o que chamamos de pré-clínica, que é quando fazemos as pesquisas no
laboratório, aí começamos com a fase clínica que é onde a vacina é estudada em
seres humanos. Concluído o desenvolvimento clínico, é feito um dossiê
submetido às agências regulatórias. Quando o produto chega [à população],
continuamos acompanhando. Por isso, as vacinas não mentem: sua eficácia e
segurança são comprovadas em estudos”.
De acordo com o
Ministério da Saúde, desde o início da vacinação contra a doença em 2021, quase
2,3 milhões de mulheres se vacinaram. Mas esse número é inferior à
previsão de gestantes e puérperas que devem se vacinar somente este ano, cerca
de 2,24 milhões. O gerente médico de vacinas da Farmacêutica GSK, Marcelo
Freitas, destaca a importância do envolvimento familiar para que a estratégia
vacinal das gestantes avance. Quando a família toda se vacina, é mais difícil
que um indivíduo fique para trás, além de formar um círculo de proteção para o
bebê. No caso da coqueluche, é inclusive recomendada a estratégia Coccoon, ou
casulo.
“A coqueluche é uma
infecção altamente contagiosa, e sabemos que as pessoas em volta da criança,
que convivem mais com ela, têm papel fundamental na transmissão. Coccoon é
justamente você cercar a criança de pessoas vacinadas, bloquear a transmissão.
É preciso lembrar que as vacinas têm efeito muito importante individualmente
- reduzem infecção, impedem a progressão para quadros graves, a
hospitalizações e óbitos, mas também têm papel fundamental
coletivamente, o de redução de transmissão de doenças em surtos e
epidemias".
O calendário básico
de vacinação do SUS também recomenda que as gestantes recebam a vacina
contra a hepatite B, caso não tenham sido imunizadas anteriormente, ou
completem o esquema de três doses se ele estiver incompleto. Também é
preciso iniciar ou completar a imunização com a DT, que protege contra tétano e
difteria em três doses, com reforço a cada dez anos.
Nilma
Neves reforça que o ideal é que antes mesmo de engravidar, as famílias
confiram o cartão de vacinas da gestante. "É muito importante que ela
receba a tríplice viral, por exemplo, que protege contra sarampo, caxumba e
rubéola, e não pode ser tomada na gestação".
(Ag. Brasil)
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