Segundo
Nobre, as partes do Acordo de Paris ainda não foram capazes de avançar na meta
de reduzir as emissões do planeta de gases de efeito estufa em
43% até a COP28 e, se fossem capazes, essa estratégia não seria mais
eficiente para manter o aumento da temperatura planetária em 1,5
grau Celsius (ºC) acima do período pré-industrial. "Nós já estamos há
16 meses com a temperatura elevada em 1,5 grau. Existe enorme risco de ela não
baixar mais. A partir de agora, se ficar três anos com 1,5 grau, a
temperatura não baixa mais", afirma.
Alcançar
os 43% já é desafio para um mundo que continua a ver as emissões de gases
de efeito estufa crescerem e que ainda depende de combustíveis fósseis,
principais vilões do problema, explica o cientista. "Se a gente seguir com
essa prática, reduzir em 43%.as emissões agora até 2030 e zerar as emissões
líquidas, só em 2050 poderemos chegar até 2,5 graus", diz.
A
maior parte dos líderes signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas, no entanto, não acompanha a urgência. Há poucos meses
do fim do prazo de atualização de metas, em fevereiro de 2025, poucos países
renovaram as ambições.
O
Brasil, como próximo país-sede da conferência em 2025, foi um dos poucos a
atualizar a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês),
baixando a meta de emissões de gases do efeito estufa nos próximos 11
anos. Os números foram apresentados na última sexta-feira (8), último dia útil
antes da abertura das negociações em Baku, onde o vice-presidente Geraldo
Alckmin apresentará a proposta brasileira.
"Essa
COP29 tem que ser desafiadora. Ela não pode ser igual à COP28. Tem que
começar realmente a debater o risco de termos um planeta chegando até a 2,5
graus em 2050. Estamos a caminho de um suicídio planetário se não
superacelerarmos a redução das emissões", reforça Nobre.
Além
de reduzir gradualmente os problemas, o climatologista lembra que os países
precisam também se preparar para o que não terá mais retorno. "Explodiram
os eventos extremos em quase todo o mundo e, mesmo em países desenvolvidos,
esses eventos extremos são graves. Veja os furacões cada vez mais fortes
pegando os Estados Unidos, o México. O furação Leme, antes do Milton,
matou mais de 200 nos Estados Unidos. Esse, em Valência, nas Espanha, não foi
furacão. Isso é um evento extremo de chuva, quase 500 milímetros de chuva em
seis horas, mataram mais centenas", diz.
Para
Carlos Nobre a adaptação de países mais pobres, portanto mais vulneráveis, é
tema que não poderá ficar de fora das negociações globais de líderes.
Embora
as políticas públicas e o alto financiamento das ações sejam iniciativas ao
alcance das decisões globais, o climatologista lembra que todos podem
contribuir, já que o avanço tecnológico tem viabilizado cada vez mais o consumo
consciente. "No Brasil, 75% das emissões foram o desmatamento da
Amazônia e do Cerrado. Outros 25% foram emissões da agropecuária,
principalmente da pecuária. Já há mercados frigoríficos que vendem a carne da
pecuária sustentável, da pecuária com muito mais baixa emissão. Aí o preço
dessa carne é igual, porque a pecuária regenerativa, ela é mais lucrativa, mais
produtiva, então não tem variação de preço", explica.
Além
da carne, a energia solar tem se mostrado mais barata que a termoelétrica,
assim como os carros elétricos também se mostram menos caros, quando o
combustível fóssil entra na conta, explica Nobre. "Nós temos realmente que
assumir a nossa liderança, porque em sociedades como a nossa, democrática, com
toda liberdade, comprar um carro elétrico economicamente faz todo sentido.
Comprar a carne da pecuária sustentável, com baixas emissões, faz todo sentido,
e o preço é o mesmo", conclui. (JB/Ag.Brasil)
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