O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se nesta quinta-feira (31), no
Palácio do Planalto, com governadores, vice-governadores, ministros e
representantes do poder judiciário e do poder legislativo, de prefeituras e
municípios, além da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, para discutir
a questão da Segurança Pública no Brasil.
Na ocasião, foi apresentada a PEC da Segurança Pública, documento proposto pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que pretende conferir status constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública (Susp), instituído em 2018, por lei ordinária.
“A
questão da segurança pública hoje não é uma questão como já foi em outras
décadas. O crime organizado hoje não é mais o bandido comum que a gente estava
habituado a lidar. Hoje é uma organização poderosa que está envolvida em todos
os setores da sociedade, inclusive em nível internacional”, ressaltou Lula.
Para
o presidente, é premente a necessidade de um amplo pacto para que seja possível
um combate efetivo ao crime organizado. “Essa é uma coisa que é quase que
incontrolável se a gente não montar um pacto federativo que envolva todos os
poderes da Federação, todos os poderes que estão envolvidos diretamente nisso,
e que a gente possa construir um processo que discuta desde o sistema prisional
até o sistema do cadastro que cada estado tem. É preciso que haja uma
informação sistematizada, organizada, porque a gente não pode continuar
permitindo que um criminoso no Paraná possa se esconder indo para São Paulo e
tirando outra identidade ou ele comece um crime em São Paulo e vá se esconder
em um estado do Nordeste”, pontuou Lula.
“Nós
estamos dispostos a discutir quantas horas forem necessárias, quantas reuniões
forem necessárias, para que a gente possa apresentar uma proposta definitiva de
combate ao chamado crime organizado que está hoje espalhado em todo o
território nacional”, prosseguiu o presidente.
“A
apresentação dessa PEC é o começo de uma grande discussão que a gente quer
fazer sobre segurança pública nesse país, sobre a criação de um sistema único
de segurança pública. A gente não poderia mandar a PEC para o Congresso
Nacional antes da gente fazer uma conversa com os governadores. E não apenas os
governadores, mas a Suprema Corte, o Superior Tribunal de Justiça, a
Secretaria-Geral da Presidência da República, o Ministério Público Federal, o
Conselho Nacional do Ministério Público, ou seja, todas as instituições que,
direta ou indiretamente, têm alguma coisa a ver”, frisou o presidente Lula.
ORGANIZAÇÕES
MAFIOSAS – Para
o ministro Rui Costa, da Casa Civil, ou o poder público, estados e municípios
se organizam para responder ao avanço do crime organizado, ou os grupos que
operam no país tendem a se tornar verdadeiras organizações mafiosas. “Hoje nós
estamos falando de uma organização criminosa que ganha contornos rápidos de
organização mafiosa no Brasil. Eles não só estão no crime, mas estão migrando
para a economia real. Estão dando cursos de formação para concursos de polícia
militar, cursos de polícia civil, estão participando no financiamento das
campanhas eleitorais, enfim, estão sendo tomados contornos de organização
mafiosa no Brasil”, alertou Rui Costa.
METODOLOGIA
SUPERADA – O
ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, detalhou em sua apresentação o que
levou o Governo Federal, por meio de sua pasta, a propor a PEC da Segurança
Pública. “O que nos levou a apresentar essa proposta é a constatação que depois
de 36 anos de promulgação da Constituição Federal de 1988 a natureza da
criminalidade mudou radicalmente. Este mecanismo, esta metodologia, esta
institucionalidade que foi gestada pelos constituintes de 1988 está
absolutamente superada pela dinâmica da criminalidade. A criminalidade mudou
radicalmente. Ela não é mais local, ela é nacional. E, mais do que isso, na
verdade ela é até transnacional. É uma criminalidade que se organizou para além
dos estados-nação e hoje atua com muita desenvoltura no plano internacional”,
afirmou Lewandowski.
“Chegou
o momento de abrir o pacote e tornar público aquilo que estamos preparando que
diz respeito às mudanças estruturais que pensamos fazer no tocante à segurança
pública brasileira. Para isso, é preciso repensar o Pacto Federativo”,
ressaltou o ministro da Justiça.
ARMAS
E LAVAGEM DE DINHEIRO – Governador do Rio de Janeiro destacou dois
pontos que precisam ser atacados no combate à criminalidade no Brasil: a
lavagem de dinheiro e o controle ao acesso às armas. "Só este ano nós
apreendemos 550 fuzis no território do Rio de Janeiro. No meu mandato são dois
mil fuzis, cinco mil armas, e esse ano 55 toneladas de drogas. E 90% das armas
apreendidas pela polícia militar e pela polícia civil do estado do Rio de
Janeiro foram fabricadas nos Estados Unidos. Foram vendidas para Paraguai, Colômbia
e, se não me engano, Equador ou Venezuela. Nós sabemos de onde essas armas vêm.
Sabemos para onde elas são vendidas. E, nesses países, elas perdem o
monitoramento. A partir daí, ninguém sabe para onde essas armas vão”, revelou o
governador.
Sobre
a lavagem de dinheiro, o governador afirmou que é preciso que o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf) atue no sentido de identificar as
empresas com movimentações fora do comum. “Se nós temos uma empresa que teve um
custo de um milhão e lucrou 30 milhões, 40 milhões, eu não conheço a atividade
econômica que dá esse valor. Essa empresa certamente está lavando dinheiro para
alguém. E o Coaf tem toda a condição de saber que empresas estão tendo lucros
excessivos. É bem provável que sejam empresas de fachada lavando dinheiro. Esse
é o mecanismo que só o Governo Federal tem”.
COMBUSTÍVEIS
– Para
o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a PEC é um bom instrumento, mas
não encerra a discussão em si. Ele também alertou para o peso que a lavagem de
dinheiro tem no fortalecimento das organizações criminosas e disse que é
preciso um olhar atento para o setor de combustíveis.
“Talvez
a gente pudesse dar, a partir dessa reunião, o primeiro grande passo para
estabelecer um grupo de trabalho e formular uma série de propostas em
complemento e que podem nos ajudar”, propôs Tarcísio. “Uma coisa que nos
preocupa muito é a transposição do ilícito nos negócios lícitos e isso vai
drenando a competitividade. Nós temos um problema sério com o setor de
combustíveis. É muito fácil se obter um regime especial tributário no setor de
combustíveis. E normalmente esses regimes especiais são para empresas de
fachada, que operam na ilegalidade, e vão servir ao tráfico de drogas, vão
servir ao crime organizado. É fundamental para que a gente possa fazer esse
combate. E olhar o setor de combustíveis é um primeiro grande passo para a
gente começar a cortar o financiamento do crime organizado”, alertou o
governador.
AMPLO
DEBATE – O
encontro reuniu 16 governadores e governadoras, três vice-governadores e uma
governadora em exercício. Além de Rui Costa e Ricardo Lewandowski, a reunião
contou com a presença do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento,
Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin; e dos ministros Esther Dweck
(Gestão e Inovação em Serviços Públicos), Alexandre Padilha (Secretaria de
Relações Institucionais), Jorge Messias (Advogado-Geral da União) e Vinicius
Carvalho (Controladoria-Geral da União).
Estiveram
presentes, ainda, o ministro Flávio Dino, do STF; o ministro Antonio Herman
Benjamin, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ); Andrei Rodrigues,
diretor-geral da Polícia Federal (PF); Antônio Oliveira, diretor-geral da
Polícia Rodoviária Federal (PRF); além de parlamentares e representantes da
Frente Nacional de Prefeitos e da Associação Brasileira dos Municípios.
POLÍCIA
OSTENSIVA FEDERAL – Segundo
o ministro da Justiça, a PEC propõe, entre seus pontos, uma mudança de nome
para a Polícia Rodoviária Federal, ampliando seu campo de atuação. “Passaria a
chamar-se Polícia Ostensiva Federal, que, além das rodovias, atuaria nas
hidrovias e ferrovias”, explicou Ricardo Lewandowski.
“A
Polícia Ostensiva Federal poderá exercer o policiamento ostensivo na proteção
de bens, serviços e instalações federais. Se nós tivéssemos, no dia 8 de
janeiro de 2022, uma Polícia Ostensiva Federal aqui, não teriam ocorrido as
invasões das sedes dos Três Poderes. Porque nós dependemos da Polícia Militar
do Distrito Federal”, ressaltou o ministro da Justiça.
TRIPÉ
– A
PEC da Segurança Pública está baseada um tripé de ações para combater a
criminalidade no país: adotar, na Constituição, o Fundo Nacional de Segurança
Pública e a Política Penitenciária; atualizar as competências da Polícia
Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF); e constitucionalizar o
Fundo Nacional de Segurança Pública e Política Penitenciária.
A
PROPOSTA – A
Constituição Federal determina, em seu artigo 144, que a segurança pública é
dever do Estado, direito e responsabilidade de todos. O texto de 1988, no
entanto, precisa ser aprimorado quanto às competências da União. A proposta
prevê maior integração entre a União e os entes federados na elaboração e
execução da política de segurança pública. Para isso, a ideia é colocar na
Constituição Federal o Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social,
composto por representantes do Governo Federal, dos Estados, do Distrito
Federal e dos municípios. O principal objetivo, a partir dessas medidas, é
estabelecer diretrizes para fortalecer o Estado no combate ao crime organizado,
por meio da padronização de protocolos, informações e dados estatísticos.
SIMETRIA
DAS FORÇAS – Os
estados da Federação e o Distrito Federal atuam na área de segurança pública
por meio de duas forças policiais distintas: polícia judiciária e polícia
ostensiva. Na avaliação do Governo Federal, este modelo, considerado efetivo,
merece ser replicado no âmbito federal. Desta forma, a PEC atualiza a
competência da Polícia Federal de modo a garantir que ela atue em ações de
crimes ambientais e aja contra práticas cometidas por organizações criminosas e
milícias privadas que tenham repercussão interestadual ou internacional e
exijam repressão uniforme. Ao contrário dos Estados e do Distrito Federal, a
União não dispõe de uma polícia ostensiva. A Polícia Rodoviária Federal teria
essa atribuição, fazendo policiamento em rodovias, além de ferrovias e hidrovias
federais. Pela proposta, ela também prestará auxílio às forças de segurança dos
demais entes federados quando requisitado.
PADRONIZAÇÃO
– Atualmente,
o Brasil possui 27 certidões de antecedentes criminais distintas, 27
possibilidades de boletins de ocorrências, 27 formatos de mandados de prisão e
27 carteiras de identidade estaduais. Para o Governo Federal, a padronização de
dados e informações é fundamental para que se dê efetividade ao Sistema Único
de Segurança Pública. Essa normatização não quer dizer que a União centralizará
os sistemas de tecnologia de informação. Ou seja: os estados não serão
obrigados a usar plataformas distintas das que já são utilizadas. Também não
haverá qualquer ingerência nos comandos das polícias estaduais e tampouco a PEC
modificará a atual competência dos estados e municípios na gestão da segurança
pública. Outro ponto importante é que a proposta não prevê a criação de novos
cargos públicos. A PEC tem como referência o Sistema Único de Saúde e o Sistema
Nacional de Educação, ambos já abordados na Constituição.
ATRIBUIÇÕES
– A
proposta apresenta novas atribuições às policiais judiciária e ostensiva. Ao
policiamento judiciário caberá atuar em ações de crimes ambientais e agir
contra práticas cometidas por organizações criminosas e milícias privadas que
tenham repercussão interestadual ou internacional e exijam repressão uniforme.
Já no campo ostensivo ficará a responsabilidade de realizar o policiamento em
rodovias, ferrovias e hidrovias federais e de prestar auxílio às forças de
segurança dos demais entes federados quando requisitado.
ARTIGOS
– A
PEC da Segurança Pública propõe alterações nos arts. 21, 22, 23, 24 e 144, da
Constituição Federal, de modo a conferir à União a competência para estabelecer
diretrizes gerais quanto à política de segurança pública e defesa social, que
compreenderá o sistema penitenciário; atualizar as competências da Polícia
Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF); e constitucionalizar o
Fundo Nacional de Segurança Pública e Política Penitenciária. (com
Ascom da Presidência)
Governadores
presentes no Planalto
Antônio
Denarium (PP), de Roraima
Carlos Brandão (PSB), do Maranhão
Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro
Clécio Luís (Solidariedade), do Amapá
Elmano de Freitas (PT), do Ceará
Fábio Mitidieri (PSD), de Sergipe
Gladson Cameli (PP), do Acre
Jerônimo Rodrigues (PT), da Bahia
Rafael Fonteles (PT), do Piauí
Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo
Ronaldo Caiado (União), de Goiás
Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo
Wanderlei Barbosa (Republicanos), do Tocantins
Cinco
estados mandaram os governadores em exercício
Hana
Ghassan Tuma (MDB), governadora em exercício do Pará (vice-governadora)
Priscila Krause (Cidadania), governadora em exercício de Pernambuco
(vice-governadora)
Otaviano Pivetta (Republicanos), governador em exercício do Mato Grosso
(vice-governador)
Celina Leão (PP), governadora em exercício do Distrito Federal
(vice-governadora)
José Carlos Barbosa (PSD), governador em exercício do Mato Grosso do Sul
(vice-governador)
Três
estados mandaram vice-governadores
Lucas
Ribeiro (PP), vice-governador da Paraíba
Tadeu de Souza Silva (Avante), vice-governador do Amazonas
Sérgio Gonçalves da Silva (União), vice-governador de Rondônia
Três
estados mandaram secretários de Segurança Pública
Flávio
Saraiva da Silva, Secretário de Segurança Pública de Alagoas
Edgard Estevo da Silva, Secretário Adjunto de Justiça e Segurança Pública de
Minas Gerais
Mário Ikeda, Secretário Adjunto de Segurança Pública do Rio Grande do Sul
Sem representantes
Os
estados que não foram citados acima não mandaram representantes, casos de:
Paraná,
de Ratinho Júnior (PSD),
Rio Grande do Norte, de Fátima Bezerra (PT),
Santa Catarina, de Jorginho Mello (PL).
(Fonte: JB com informações da CNN)
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