O
observatório aponta que os resultados na Amazônia refletem a retomada pelo
governo federal, em 2023, do Plano de Ação para Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).
Considerando
todos os biomas, o desmatamento teve uma queda de 24% no ano passado. De acordo
com o SEEG, as mudanças de uso da terra – que envolvem desmatamento, queimadas,
entre outras modificações – respondem por 46% de todos os gases-estufa que o
Brasil lançou na atmosfera em 2023.
Mas
a notícia não é tão boa para todos os ecossistemas. As emissões aumentaram 23%
no Cerrado, 11% na Caatinga, 4% na Mata Atlântica e 86% no Pantanal. No Pampa,
as emissões por conversão da vegetação nativa também caíram (15%), mas o bioma
responde por apenas 1% do setor.
“Mesmo
com a desaceleração na Amazônia, a devastação dos biomas brasileiros emitiu
1,04 GtCO2e brutas em 2023. Ela torna o Brasil o quinto maior emissor de gases
de efeito estufa do mundo. Se fosse um país, o desmatamento do Brasil seria o
oitavo maior emissor do planeta, atrás do Japão e à frente do Irã”, aponta o
estudo.
Os
números divulgados nesta quinta-feira, no entanto, indicam que, pelo menos por
enquanto, o Brasil está mais perto de cumprir as metas climáticas. “A queda nas
emissões em 2023 certamente é uma boa notícia, e põe o país na direção certa
para cumprir sua NDC, o plano climático nacional, para 2025”, destaca, em nota,
David Tsai, coordenador do SEEG.
Tsai
pondera, por outro lado, que é preocupante a dependência excessiva do que
ocorre na Amazônia. “As políticas para os outros setores são tímidas ou
inexistentes. Isso vai ter de mudar na nova NDC [Contribuição Nacionalmente
Determinada, pela sigla em inglês], que será proposta ainda este ano. O Brasil
precisa de um plano de descarbonização consistente e que faça de fato uma
transformação na economia.”
Emissões
por queimadas
O
SEEG também calculou as emissões por queimadas de pasto e queimadas de
vegetação nativa não associadas ao desmatamento. “À medida que a crise do clima se agrava, o fogo é um fator
cada vez mais importante no balanço de carbono do Brasil”, alerta o
observatório.
Em
2023, as emissões por queimadas não associadas ao desmatamento caíram 7%, para
95 MtCO2e. As emissões por queima de pasto tiveram uma redução de 38%, de 1,7
MtCO2e em 2022 para 1,2 MtCO2e em 2023.
De
acordo com a entidade, o carbono do fogo não associado ao desmatamento – que
afeta, por exemplo, florestas em pé na Amazônia e na Mata Atlântica – não é
contabilizado nos inventários nacionais.
“O
OC [Observatório do Clima] vem monitorando essas emissões desde 2018, a fim de
reduzir a incerteza em suas medições, para que elas possam passar a ser
contabilizadas. Neste ano também foram monitoradas, pela primeira vez, emissões
de metano e de óxido nitroso (dois potentes gases de efeito estufa) por queima
de pastagens.”
Outros
setores
O
crescimento de 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas
do país, também teve consequências na emissão de poluentes atmosféricos,
especialmente na agropecuária. O setor registrou o quarto recorde
consecutivo de emissões, com alta de 2,2%. O principal responsável é o aumento
do rebanho bovino, com destaque para o popular “arroto do boi” (fermentação
entérica), com 405 milhões de toneladas em 2023 (mais do que a emissão total da
Itália).
A
agropecuária respondeu por 28% das emissões brutas do Brasil no ano passado.
Somando as emissões por mudança de uso da terra, a atividade agropecuária segue
sendo a maior emissora do país, com 74% do total.
O
setor de energia registrou aumento de 1,1%. O estudo aponta que a elevação se
deve ao aumento do consumo de óleo diesel, gasolina e querosene de aviação no
ano passado. Isso também fez aumentar as emissões no setor de transporte, alta
de 3,2%, que representa um recorde histórico (224 MtCO2e). No total, energia e
processos industriais emitiram 22% do total nacional (511 MtCO2e).
Também
houve leve alta no setor de resíduos, com 1%. Apesar do acréscimo, as emissões
desse setor são marcadas por forte crescimento, acompanhando o aumento da
população. O resultado, portanto, é positivo e, segundo o estudo, reflete
avanços no acesso aos serviços de saneamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário