

O dado faz parte do Atlas da Violência 2025, divulgado nesta
segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
vinculado ao governo federal, e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP), uma organização sem fins lucrativos.
O estudo faz comparativos
desde 2013, quando o número de mortes chegou a 57.396. Ou seja, de lá para cá,
houve redução de 20,3% na quantidade de homicídios.
O ano com mais casos foi 2017, com 65.602 homicídios. O menor, 2019, registrou 45.503
mortes. Na comparação com o ano que
registrou mais casos, a queda em 2023 é de aproximadamente 30%.
Os dados do Atlas da Violência são coletados de
fontes oficiais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
responsável pela contagem da população, e o Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM) e Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do
Ministério da Saúde.
Taxa de homicídio
Como a população brasileira
aumentou ao longo dos últimos anos, uma forma de saber como se comporta a
proporção de homicídios no país é por meio da taxa de homicídios registrados
por 100 mil habitantes.
Esse indicador revela que em 2023 foram 21,2 homicídios por 100
mil habitantes, a menor taxa já registrada no estudo, coordenado pelo pesquisador
Daniel Cerqueira, do Ipea, e pela diretora executiva do FBSP, Samira Bueno.
NÚMERO DE HOMICÍDIOS NO BRASIL |
|
2013:
57.396 |
2019:
45.503 |
2014:
60.474 |
2020:
49.868 |
2015:
59.080 |
2021:
47.847 |
2016:
62.517 |
2022:
46.409 |
2017:
65.602 |
2023:
45.742 |
2018:
57.956 |
|
TAXA DE HOMICÍDIOS POR 100 MIL HABITANTES |
|
2013:
28,8 |
2019:
21,7 |
2014:
30,1 |
2020:
23,6 |
2015:
29,1 |
2021:
22,5 |
2016:
30,6 |
2022:
21,7 |
2017:
31,8 |
2023:
21,2 |
2018:
27,9 |
|
Motivos para a
queda
Apesar de o estudo trazer
comparações a partir de 2013, o pesquisador Daniel Cerqueira afirmou à Agência Brasil que a redução na
taxa de homicídios vai além desse período.
“Apesar do número exorbitante
de mortes, trata-se da menor taxa de homicídios que o Brasil atingiu nos
últimos 31 anos”, pontua.
Segundo ele, dois fatores
principais explicam essa tendência decrescente. Um deles é o envelhecimento da
população, uma vez que jovens são mais associados à violência.
“O que nós sabemos das evidências
científicas é que um ator importante, seja como vítima, seja como o perpetrador
nesse drama da violência é o jovem. Quando a população envelhece, isso provoca
uma maré a favor de redução de homicídios”.
Revolução
invisível
O outro fator, destaca
Cerqueira, é uma “revolução invisível”, que pode ser explicada por uma mudança
nas políticas públicas de segurança, em que a atuação das polícias conta com
mais qualificação e inteligência.
Ele aponta que tem havido uma troca da “segurança pública
baseada simplesmente no policiamento ostensivo para uma política baseada em
planejamento, em dados, em ciência”.
“Uma polícia inteligente em
vez da polícia da brutalidade”, completa. Cerqueira
avalia que a qualificação do trabalho policial permite identificar e prender os
criminosos.
O coordenador do estudo
percebe ainda que há “políticas multissetoriais de prevenção social para
disputar cada jovem naquelas favelas, disputar com o crime organizado e
desorganizado”.
Estados
O Atlas da Violência também
apresenta os dados por unidades da federação (UF). Em 2023, 20 estados apresentaram taxa de
homicídio por 100 mil habitantes superior à média nacional, com
destaque negativo para Amapá (57,4), Bahia (43,9) e Pernambuco (38).
Das sete UFs abaixo da média
nacional, as menores taxas foram registradas em São Paulo (6,4), Santa Catarina
(8,8) e Distrito Federal (11).
Ao fazer uma análise mais
expandida, o documento ressalta que “há
pelo menos oito anos, nada menos que 11 UFs têm conseguido reduzir sistematicamente
a taxa de homicídios”.
São eles Pará, Rio Grande do
Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe, Distrito Federal, Espírito
Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraíba e São Paulo.
Na ponta contrária, nos últimos 11 anos o aumento das mortes no
Amapá foi de 88,2%, mostra o levantamento.
Armas de fogo
O Atlas
da Violência revela que 32.749 homicídios foram cometidos
por arma de fogo no país. Em 2017, ano mais violento, esse número
chegou a 49 mil.
O dado de 2023 equivale a
15,2 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes. Representa também que
71,6% das mortes violentas no país foram praticados com esse tipo de armamento.
Amapá (48,3), Bahia (36,6) e
Pernambuco (30,8) são os estados com as maiores taxas. Por outro lado, se
destacam positivamente São Paulo (3,4), Santa Catarina (4,4), Distrito Federal
(5,3) e Minas Gerais (8,3).
O relatório aponta
fragilidades na fiscalização de armas no país e afirma que “quanto maior a
circulação e a prevalência de armas de fogo, maior tende a ser a taxa de
homicídios”.
Homicídios
ocultos
Os pesquisadores do Ipea e do
FBSP chamam de “homicídios ocultos” os casos de violência que não foram
adequadamente identificados pelos sistemas oficiais. Por meio de modelos
matemáticos, eles chegam a uma taxa estimada de homicídios.
“No período compreendido
entre 2013 e 2023, identificamos a ocorrência de 51.608 homicídios ocultos no
Brasil, que passaram ao largo das estatísticas oficiais de violência no país, uma
média anual de 4.692 homicídios que deixaram de ser contabilizados”, diz o
texto.
Com o acréscimo desses dados,
a taxa estimada de homicídios no
país chega a 23 casos por 100 mil habitantes. Assim como a taxa de
casos efetivamente registrados, trata-se também da menor desde 2013.
O ponto mais alto ocorreu em
2017, com 33,6 casos por 100 mil habitantes. Em 2022, o indicador marcou 24,5.
O Atlas
da Violência nota que a inclusão dos homicídios ocultos faz mudar
significativamente os indicadores dos estados.
São Paulo é o caso mais
extremo: em 2023, o estado deixou de registrar 2.277 homicídios. Dessa forma,
enquanto a taxa de homicídios registrados era de 6,4 para cada 100 mil
habitantes, a estimada naquele ano era de 11,2.
“Com isso, o estado de São
Paulo deixa de ser a UF menos violenta da nação, passando para a segunda
posição, atrás de Santa Catarina [9 estimados por 100 mil habitantes]”, frisa o
documento.
(Ag. Brasil)
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