

Com o
desafio de pensar ações e estratégias capazes de melhorar a vida desse contingente,
a agência das Nações Unidas (ONU) para as Mulheres completa 15 anos em 2025. A
entidade reconhece que a caminhada pela igualdade de gênero, nesse período, não
andou em linha reta, mas que as idas e vindas fazem parte do processo. Para
impedir retrocessos acentuados, no entanto, propõe uma repactuação.
Pesquisa da
entidade, de março deste ano, mostra que direitos humanos das mulheres estão em
risco em um a cada quatro países, além de salientar preocupação com o aumento
da violência e da exclusão digital de mulheres.
Na
avaliação da entidade, o momento histórico é precário, o que, na prática,
significa piora das condições de vida, como reconhece Ana Querino,
representante interina da ONU Mulheres no Brasil.
"São 15 anos
de atuação, de institucionalização de um trabalho que começou há 50 anos, com a
intenção de acelerar os avanços", explicou a gestora. "Quando a gente
pensa em mudanças estruturantes, que mudam a sociedade, é normal que
se tenha esses movimentos, que não são em linha reta. São avanços como as
ondas do mar, analogia de que me apropriei, pois, vão e voltam, mas são
persistentes e não têm como segurar. A força da natureza é maior",
comparou.
Entre os desafios
do momento, a agência destaca a obrigação dos países de incluírem 50% de
mulheres nos espaços de decisão, conforme recomendação recente da Convenção
para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação com as Mulheres (Cedaw). A convenção
tem força de lei no Brasil, tendo sido adotada em 1984. Hoje, as brasileiras
não chegam a duas a cada dez parlamentares no Congresso Nacional. Elas são 17%
do total de 513 deputados e 81 senadores eleitos no país.
Outra preocupação
da ONU Mulheres é com 600 milhões de mulheres e meninas vivendo em zonas de
conflito, 50% a mais que há dez anos, segundo balanço da entidade. Além do risco de
morte e das condições de vida precária, a situação é fator determinante para mortes
maternas. Seis em cada dez mortes de mulheres relacionadas à gravidez ocorrem
nos 35 países afetados por conflitos.
"Estamos em
momento de fragilidade em relação aos acordos alcançados na criação da ONU,
portanto, mais do que nunca, é preciso reforçar a mensagem da Carta da ONU, que
completou 70 anos. Mas a certeza que a gente tem, independentemente do
conflito, é de que as mulheres e meninas são afetadas de forma específica pelas
guerras e, muitas vezes, a violência contra essas mulheres e meninas, incluindo
estupros, são usados como arma", explicou a representante no Brasil.
A
organização cobra que lideranças, em especial os chefes de Estado e os
parlamentos, assumam a defesa dos compromissos internacionais, como os
pactuados há 30 anos na Plataforma de Ação de Pequim e os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, entre outros acordos, como a Resolução 1.325 do
Conselho de Segurança. O documento reconhece o impacto diferenciado das
guerras sobre meninas e mulheres e a necessidade de participação delas na
mediação e construção da paz.
Nesse cenário, a
ONU Mulheres quer renovar o compromisso dos Estados e instituições privadas e
propõe 15 ações em diversas áreas, divulgadas nesta terça-feira (1º). A principal é
proteger as conquistas já obtidas.
"Isso inclui
garantir que os sistemas legais, políticos e financeiros promovam — e não
dificultem — a igualdade de gênero", destaca o informe da entidade
divulgado para marcar o aniversário.
"A gente
precisa muito que essas lideranças, nos mais variados espaços, nos governos,
parlamentos, nas empresas privadas e na sociedade civil, assumam esse
compromisso ou pelo menos visibilizem e falem sobre [os direitos das mulheres],
porque temos ouvido, com frequência, vozes de outras pessoas em posições de
destaque, vamos falar assim, que estão se contrapondo [a esses direitos]",
explicou Ana. "Precisamos de vozes que reforcem o progresso", frisou.
Outra
importante ação é incluir as mulheres digitalmente. A representante da ONU
explicou que muitas têm dificuldade de usar a tecnologia, o que acaba limitando
o uso por elas. Paralelamente, a entidade cobra mais mulheres na indústria
digital. "Se não temos mulheres por trás desse avanço tecnológico, temos a
tecnologia reproduzindo a misoginia e a discriminação", alertou. Como resultado
dessa exclusão, a ONU também observa o aumento da violência facilitada pela
internet.
Entre as 15 ações
propostas pela ONU para repactuar avanços sobre a igualdade de gênero,
além de impedir retrocessos e acabar com os conflitos, são prioridades erradicar
a pobreza, uma vez que uma em cada dez meninas ou mulheres ainda vive com menos
de US$ 2,15, ou seja, menos de R$ 12 por dia, e combater a fome. Segundo a ONU,
mais mulheres do que homens enfrentam insegurança alimentar.
Enfrentar
a violência é outra ação que requer medidas imediatas, pois uma mulher ou
menina é assassinada a cada dez minutos no mundo por um parceiro ou
parente próximo. Em 2023, 85 mil foram assassinadas intencionalmente. A
situação exige fortalecimento das leis, tolerância zero e apoio às
sobreviventes.
A
participação das mulheres nas discussões sobre as mudanças do clima e a
participação delas na economia são também frentes da ONU Mulheres. A entidade
propõe políticas ou sistemas de cuidado com empregos dignos no setor, além de
salários iguais em todas as profissões. Elas ainda ganham 20% menos.
(Ag.
Brasil)
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