"Quatro anos atrás, Jair Bolsonaro, então presidente do Brasil, fez uma promessa. Em declarações a líderes evangélicos, o ex-capitão do Exército disse que sua campanha de reeleição em 2022 só poderia terminar em prisão, morte ou vitória. 'E pode ter certeza de que a primeira opção não existe', disse ele. Ele estava errado", escreve a revista britânica The Economist.
"Em 11 de setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) votou
pela condenação de Bolsonaro por golpe de Estado.
Poucas horas depois, o tribunal proferiu a sentença de Bolsonaro: 27 anos e
três meses de prisão."
A Economist diz que a condenação de Bolsonaro "é histórica".
"O Brasil sofreu inúmeros golpes desde sua independência em 1822. O
mais recente inaugurou uma ditadura militar que governou de 1964 a 1985 e matou
centenas de pessoas. Bolsonaro é um defensor ferrenho desse regime."
A revista disse que a defesa de Bolsonaro e dos demais réus no
julgamento foi "técnica", mas que as provas contra eles eram
"contundentes".
"Eles aceitaram as ações individuais das quais foram acusados, mas
alegaram que não constituíam um golpe", disse a artigo.
Mas a Economist destacou que essa linha de defesa não comoveu os juízes
— destacando a fala de Alexandre de Moraes durante o julgamento de que o Brasil
quase voltou a uma ditadura.
A revista afirma que o voto de Luiz Fux pela absolvição de Bolsonaro foi
a única abertura que o ex-presidente teve nesse julgamento, com muitos
especulando se esse voto não abriria caminho para uma anulação da condenação no
futuro.
Mas a Economist considera essa possibilidade "remota".
"A gravidade das acusações contra Bolsonaro e o peso das evidências
fazem com que essa seja uma possibilidade remota", escreve a revista.
O jornal americano Wall Street Journal destacou que a condenação de
Bolsonaro pela Justiça brasileira "desafia os esforços do presidente Trump para
sabotar um caso que eletrizou o maior país da América Latina e colocou o Brasil
no centro da guerra comercial do governo americano".
O jornal noticiou que o governo americano pensa em retaliar o Brasil por
causa da decisão do julgamento.
O Wall Street Journal também avalia que Bolsonaro poderia passar o resto
da vida na cadeia por conta de sua idade — o ex-presidente tem 70 anos e
cumprirá pena de 27 anos. Mas o jornal americano lembra que existe um esforço
de aprovar uma anistia no Congresso. Além disso, as complicações de saúde do
ex-presidente poderiam fazer com que sua pena fosse reduzida no futuro.
O jornal afirmou que houve comemorações no Brasil após o voto da
ministra Cármen Lúcia, que determinou a maioria pela condenação de Bolsonaro.
"Muitos brasileiros começaram a comemorar na quinta-feira,
buzinando e comemorando nas janelas de seus prédios, enquanto as autoridades se
preparavam para uma reação negativa da Casa Branca."
O Wall Street Journal afirma que "a opinião pública está
profundamente dividida" no Brasil, citando pesquisas.
"Cerca de 51% dos brasileiros concordaram com a decisão do tribunal
de colocar Bolsonaro em prisão domiciliar em 4 de agosto, enquanto 42%
discordaram, segundo pesquisa Datafolha recente. Cerca de 46% dos brasileiros
querem o impeachment de Moraes, enquanto apenas 43% o apoiam, segundo pesquisa
da Quaest no mês passado."
O jornal fala sobre como o julgamento é visto pelos dois lados da
polarização política no Brasil.
"Para os críticos de Bolsonaro, o julgamento é uma vitória para a
jovem democracia do país e um acerto de contas com seu passado autoritário. É a
prova, dizem eles, de que o país pode responsabilizar seus líderes, oferecendo
um exemplo ao mundo — e especificamente aos EUA — de que nenhum presidente está
acima da lei", diz a reportagem.
"Para os apoiadores de Bolsonaro, o caso não passa de uma caça às
bruxas para mantê-lo fora do poder. Ele ainda conta com dezenas de milhões de
apoiadores leais, incluindo muitos líderes empresariais, agricultores e
evangélicos."
Bolsonaro 'espera milagre' com Trump, diz NY Times
O jornal americano New York Times disse que a condenação "é um
marco para a maior nação da América Latina".
"Em pelo menos 15 golpes e tentativas de golpe com ligações
militares desde que o Brasil derrubou a monarquia em 1889, a quinta-feira
marcou a primeira vez que os líderes de uma dessas conspirações foram
condenados", diz o New York Times.
"[A sentença de prisão] também pode desferir um golpe definitivo em
uma das figuras políticas mais importantes e influentes da América Latina.
Bolsonaro galvanizou um movimento de direita que transformou o Brasil em uma
nação mais polarizada e, em alguns aspectos, conservadora — mas sua condenação
agora deixa a direita sem uma liderança clara."
O jornal também afirma que "a decisão provavelmente agravará o
conflito entre o Brasil e os EUA".
"Isso levou Bolsonaro a depositar sua fé em um Hail Mary [uma
espécie de milagre, no jargão esportivo americano] vinda do exterior:
Trump", diz o jornal, citando que o governo americano pode colocar mais
pressão sobre o Brasil após a condenação.
Não é o fim do bolsonarismo, diz Guardian
O jornal The Guardian afirma que a condenação de Bolsonaro à prisão
"não significa de forma alguma o fim de seu movimento político".
"O veredito histórico — a primeira vez que um ex-presidente
brasileiro é considerado culpado de tentar derrubar a democracia do país —
parece ter acabado com as esperanças de Bolsonaro de um dia retomar a
presidência da maior democracia da América do Sul", escreve o jornal britânico.
"Mas especialistas e políticos de todo o espectro concordam que o
movimento político do ex-paraquedista, o bolsonarismo, continuará a prosperar
apesar da prisão de seu criador."
O jornal destaca que Bolsonaro ganhou 58 milhões de votos na última eleição
— e que ele segue popular em diversos segmentos da sociedade brasileira.
"É improvável que Bolsonaro seja preso nas próximas semanas. Não
está claro se ele será enviado para uma prisão comum ou ficará preso em uma
instalação policial ou militar", afirma o Guardian.
O jornal britânico diz que "as mentes já estão se voltando para
qual político herdará seus votos na eleição presidencial do próximo ano".
"Entre os concorrentes estão seu filho senador, Flávio Bolsonaro, e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, uma cristã do movimento carismático, que é popular entre eleitores evangélicos e mulheres conservadoras. [...] Outros acreditam que o 'dinheiro inteligente' está nas mãos do governador direitista de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um ex-capitão do Exército que foi ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro de 2019-2023."
(Fonte: BBC)
Nenhum comentário:
Postar um comentário