O papa Francisco fez
seu tradicional discurso para a Cúria Romana, que gerencia toda a parte
administrativa da Igreja Católica, nesta quinta-feira (21) e, como tem se
tornado comum em seu Pontificado, aumentou o tom e pediu o fim dos
"complôs" e das "traições de confiança".
Durante a fala, Jorge Mario Begoglio convidou o órgão a "superar
aquela lógica desequilibrada e degenerativa dos complôs ou dos pequenos grupos
que representam, na realidade, mesmo com todas as justificativas e boas
intenções, um câncer que nos leva à autorreferência, que se infiltra também nos
organismos eclesiásticos enquanto tais e, em particular, nas pessoas que atuam
neles".
Segundo o líder católico, quando isso ocorre, "perde-se a alegria
do Evangelho, a alegria de comunicar Cristo e de estar em comunhão com Ele, e
perde-se a generosidade da nossa consagração religiosa".
Em outra parte de sua fala, Bergoglio denunciou um "perigo"
que ocorre dentro das instituições católicas, "aquele dos traidores de
confiança ou dos aproveitadores da maternidade da Igreja".
"Ou seja, pessoas que são selecionadas criteriosamente para dar
maior vigor e corpo à reforma, mas não entendem a sublimidade de sua
responsabilidade e se deixam corromper pela ambição ou pela glória. E, quando
são afastadas, se declaram erroneamente como 'mártires do sistema', do 'Papa
não informado', da 'velha guarda', ao invés de fazer uma 'mea culpa",
disse ainda aos religiosos.
Apesar de não citar nomes, o Vaticano enfrentou durante este ano alguns
afastamentos polêmicos de representantes laicos e religiosos nas instituições
financeiras e religiosas da Igreja. Alguns deles citaram, justamente, que o "Papa não foi
informado" do que realmente ocorria na situação ou atacaram o sucessor de
Bento XVI pela sua postura reformista.
Abandonar 'supérfluos - O Pontífice ainda afirmou que esta época do ano deve inspirar os
representantes da Cúria Romana a abandonar velhos comportamentos. "Que esse Natal abra nossos olhos para abandonar o supérfluo, o
falso, o malicioso e o fingido para podermos ver o essencial, o verdadeiro, o
bom e o autêntico. Muitas saudações para isso, verdadeiramente", disse aos
religiosos na Sala Clementina.
De acordo com Francisco, os dicastérios - espécie de Ministérios na
organização da Santa Sé - da Cúria Romana devem ser "como antenas
sensíveis, que emitem e recebem" sinais dos fiéis. "Antenas
emitentes, por serem habilitadas para transmitir fielmente a vontade do Papa e
dos Superiores", ressaltou ainda o líder católico.
Conforme o Bispo de Roma, a palavra "fidelidade" deve ter um
caráter diferente para "quem atua na Santa Sé desde o momento que se põe
ao serviço como Sucessor de Pedro"."Trata-se de uma grave
responsabilidade, mas também de um dom especial, que com o passar do tempo, vai
desenvolvendo uma ligação afetiva com o Papa, de confidência interior,
naturalmente sentido e que é bem expressado pela palavra fidelidade",
destacou.
"A imagem da antena também nos leva para o movimento inverso,
aquele do recebedor. Trata-se de colher as instâncias, os pedidos, as solicitações,
os gritos, a alegria e as lágrimas da Igreja e do mundo de maneira que possa
ser transmitida ao Bispo de Roma. Assim, permitem que ele desenvolva mais
eficazmente a sua missão", acrescentou.
Nos últimos anos, os discursos de Francisco para Cúria Romana tem sido
duros. No ano passado, ele afirmou que havia "resistências malvadas"
contra as reformas promovidas por ele dentro da Igreja Católica, em uma
afirmação sobre o empoderamento da ala conservadora na instituição.
Em 2015, ele pediu para que os cristão" não fossem obcecados pelo
poder" e garantiu que seguiria com as reformas. Um ano antes, ele pediu
perdão a todos pelos "erros e escândalos" ocorridos dentro da
entidade. Neste mesmo ano, em 2014, ele listou uma série de "doenças"
dentro da Cúria, em um discurso que teve ampla repercussão internamente na
Igreja.(ANSA)
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