quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Em discurso duro, Papa pede fim de complôs e traições na Cúria

O papa Francisco fez seu tradicional discurso para a Cúria Romana, que gerencia toda a parte administrativa da Igreja Católica, nesta quinta-feira (21) e, como tem se tornado comum em seu Pontificado, aumentou o tom e pediu o fim dos "complôs" e das "traições de confiança".

Durante a fala, Jorge Mario Begoglio convidou o órgão a "superar aquela lógica desequilibrada e degenerativa dos complôs ou dos pequenos grupos que representam, na realidade, mesmo com todas as justificativas e boas intenções, um câncer que nos leva à autorreferência, que se infiltra também nos organismos eclesiásticos enquanto tais e, em particular, nas pessoas que atuam neles".

Segundo o líder católico, quando isso ocorre, "perde-se a alegria do Evangelho, a alegria de comunicar Cristo e de estar em comunhão com Ele, e perde-se a generosidade da nossa consagração religiosa".

Em outra parte de sua fala, Bergoglio denunciou um "perigo" que ocorre dentro das instituições católicas, "aquele dos traidores de confiança ou dos aproveitadores da maternidade da Igreja".

"Ou seja, pessoas que são selecionadas criteriosamente para dar maior vigor e corpo à reforma, mas não entendem a sublimidade de sua responsabilidade e se deixam corromper pela ambição ou pela glória. E, quando são afastadas, se declaram erroneamente como 'mártires do sistema', do 'Papa não informado', da 'velha guarda', ao invés de fazer uma 'mea culpa", disse ainda aos religiosos.

Apesar de não citar nomes, o Vaticano enfrentou durante este ano alguns afastamentos polêmicos de representantes laicos e religiosos nas instituições financeiras e religiosas da Igreja. Alguns deles citaram, justamente, que o "Papa não foi informado" do que realmente ocorria na situação ou atacaram o sucessor de Bento XVI pela sua postura reformista.

Abandonar 'supérfluosO Pontífice ainda afirmou que esta época do ano deve inspirar os representantes da Cúria Romana a abandonar velhos comportamentos. "Que esse Natal abra nossos olhos para abandonar o supérfluo, o falso, o malicioso e o fingido para podermos ver o essencial, o verdadeiro, o bom e o autêntico. Muitas saudações para isso, verdadeiramente", disse aos religiosos na Sala Clementina.

De acordo com Francisco, os dicastérios - espécie de Ministérios na organização da Santa Sé - da Cúria Romana devem ser "como antenas sensíveis, que emitem e recebem" sinais dos fiéis. "Antenas emitentes, por serem habilitadas para transmitir fielmente a vontade do Papa e dos Superiores", ressaltou ainda o líder católico.

Conforme o Bispo de Roma, a palavra "fidelidade" deve ter um caráter diferente para "quem atua na Santa Sé desde o momento que se põe ao serviço como Sucessor de Pedro"."Trata-se de uma grave responsabilidade, mas também de um dom especial, que com o passar do tempo, vai desenvolvendo uma ligação afetiva com o Papa, de confidência interior, naturalmente sentido e que é bem expressado pela palavra fidelidade", destacou.

"A imagem da antena também nos leva para o movimento inverso, aquele do recebedor. Trata-se de colher as instâncias, os pedidos, as solicitações, os gritos, a alegria e as lágrimas da Igreja e do mundo de maneira que possa ser transmitida ao Bispo de Roma. Assim, permitem que ele desenvolva mais eficazmente a sua missão", acrescentou.

Nos últimos anos, os discursos de Francisco para Cúria Romana tem sido duros. No ano passado, ele afirmou que havia "resistências malvadas" contra as reformas promovidas por ele dentro da Igreja Católica, em uma afirmação sobre o empoderamento da ala conservadora na instituição.

Em 2015, ele pediu para que os cristão" não fossem obcecados pelo poder" e garantiu que seguiria com as reformas. Um ano antes, ele pediu perdão a todos pelos "erros e escândalos" ocorridos dentro da entidade. Neste mesmo ano, em 2014, ele listou uma série de "doenças" dentro da Cúria, em um discurso que teve ampla repercussão internamente na Igreja.(ANSA)


Nenhum comentário:

Postar um comentário