Encerrado o segundo
turno das eleições, com a vitória do candidato do Partido Social Liberal, PSL,
Jair Messias Bolsonaro, com 55,13% dos votos válidos. O candidato do Partido
dos Trabalhadores, PT, Fernando Haddad, obteve 44,87%, confirmando praticamente
os prognósticos das últimas pesquisas de opinião pública. Longe dos patamares
otimistas apresentados ao longo da campanha pelos partidários do candidato
vencedor.
Mais uma vez, o
Brasil ficou geograficamente dividido, tendo os eleitores das regiões Sul,
Sudeste, Centro-Oeste e Norte optado pelo candidato ideologicamente da DIREITA,
e o Nordeste do país com o representante identificado com a ESQUERDA.
Como se registrou
nos dois primeiros artigos (1ª e 2ª partes), o eleitor brasileiro nestas
eleições trouxe para as ruas, efetivamente, a divisão ideológica que se
apregoou. Não foram simples embates de ideias, pelo contrário, registraram-se
grandes manifestações nos mais diversos recantos do país para marcar suas
posições. Não é desarrazoado dizer-se que o Brasil pós-eleições, na
conformidade do mapa-político-eleitoral, ficou deveras dividido.
Não se pode deixar
de registrar que as eleições de 2018 ficarão marcadas, na história política
nacional, como atípicas. Primeiro, porque o candidato do PSL manteve-se
afastado dos embates das ruas e dos debates televisivos, ora pela condição
física decorrente do atentado sofrido, ora por mera estratégia de campanha. Segundo,
porque o eleitor ficou órfão do sempre esperado e desejável confronto entre os
presidenciáveis, a fim de que cada um apresentasse seus projetos para resolver
os grandes problemas nacionais que, certamente, e sem sombra de dúvidas, vão
muito além da discussão ideológica que batiza o tema proposto.
Por outro lado, as
eleições foram marcadas pela forte atuação das mídias sociais e com uma carga
de informações surpreendente. Surgiram as famigeradas FAKE NEWS que a Justiça
Eleitoral não conseguiu coibir a tempo, vindo tão-somente a identificar o
desequilíbrio político-eleitoral quando o estrago já havia se consumado,
notadamente para o Partido dos Trabalhadores.
Neste particular, o
eleitor deu o recado de que o modelo vigente não mais atendia os anseios do
povo brasileiro, que taxaram de ‘velha política’, abastecida pelo toma lá da cá,
nepotismo e enraizamento da corrupção. Para muitos críticos, faltou ao PT fazer
sua autocrítica naquilo que gerou o maior desgaste para a legenda, a falta de
maior vigilância na condução das estatais.
Não é despiciendo
registrar que o partido do presidente eleito, PSL, de nanico e sem nenhuma
visibilidade nacional, alcançou significativo crescimento, cujo capital
eleitoral se deve a própria figura do presidenciável, elegendo 52 Deputados
Federais. O Partido dos Trabalhadores, por sua vez, além de conseguir o maior
número de reeleitos, ficou com a maior bancada, 56 Deputados.
Afastado o confronto
ideológico das duas legendas que foram ao segundo turno, importante consignar,
também, a mobilização, nas últimas semanas que antecederam as eleições, de várias
personalidades dos mais diversos segmentos da sociedade brasileira, atentos na
visão de muitos com o que chamaram de ‘preocupação com o autoritarismo’ e em
defesa do ‘Estado Democrático de Direito’.
Entanto, na
contramão de quantos se manifestavam em defesa da DEMOCRACIA fazendo verdadeira
barricada cívica, a fuga para o exterior do candidato Ciro Gomes envergonhou
não só aos seus eleitores, como outros milhares que clamavam por uma união
suprapartidária. Preferiu eleger seus interesses e projetos pessoais como
prioritários. Efetivamente não teve postura de um estadista.
Na leitura deste
articulista, a história já mostrou que o verdadeiro homem público e compromissado
com o país releva discordâncias menores, como assim o fez o saudoso gaúcho
Leonel da Moura Brizola. Na primeira eleição pós-redemocratização, depois de
acirrada disputa com o candidato Lula, lhe emprestou, ato contínuo, apoio
incondicional, fazendo a maior transferência de votos que se teve notícia na
política brasileira.
É imperioso dizer
que a decisão do velho caudilho se deu por entender que o opositor era o que
existia de pior para o país, como de fato se sucedeu, sequer terminou o
mandato. Por esta razão, e dentro deste mesmo alinhamento de ideia, a política
provincial adotada por Ciro Gomes não o credencia como o estadista que pode
unificar o país.
Ainda sobre o
resultado das eleições, no Estado do Ceará, berço político de Ciro Gomes, a
diferença de votos dele para com o candidato do PT, Fernando Haddad,
restringiu-se a dez pontos percentuais, numa clara demonstração da força
independente do Partido dos Trabalhadores. Fica claro, também, que as legendas
que se assemelham à esquerda precisam unir-se para o enfrentamento que se
avizinha, longe do isolacionismo apregoado, pois acima de tudo urge a defesa do
Estado Democrático de Direito.
Noutra senda, o
resultado do 2º turno comprovou a derrocada do PSDB nas urnas e sinalizou que o
partido faça necessária reavaliação. Não obstante, sair vitorioso nos estados
de São Paulo e Rio Grande do Sul, e o primeiro diante de sua importância na
vida econômica e política nacional, coloca o governador eleito, João Doria,
como forte postulante ao Palácio da Alvorada. Isto torna o projeto pessoal de
Ciro Gomes para 2022 num verdadeiro pesadelo.
Enfim, aos
brasileiros notadamente os alinhados, ideologicamente, com a socialdemocracia precisarão
de coragem para o duvidoso tempo que se avizinha. As minorias, mais do que nunca,
terão que ter voz no parlamento, e que as conquistas alcançadas não sejam
literalmente moídas pelo capital opressor, voraz na defesa de seus privilégios
e algoz dos menos favorecidos. Cervantes, em Dom Quixote de La Mancha, imortal
literatura espanhola, vaticinou: “Quem
perde seus bens, perde muito; quem perde um amigo, perde mais; mas quem perde a
coragem, perde tudo”.
Avante amado Brasil.
(*) Francisco José Rodrigues Bezerra de Menezes, guaraciabense, Advogado. Pós-graduado em Direito Processual Civil e Direito e Processo Eleitoral. Especialista em Direito Civil. Sócio fundador da Bezerra de Menezes Advogados Associados. (E-mail: bezerrademenezesadv@gmail.com).

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