sexta-feira, 9 de novembro de 2018

LITERATURA CEARENSE: O embate ideológico das ruas - Perfil do eleitor de esquerda e direita - 3ª e última parte (Por Franzé Bezerra*)

Encerrado o segundo turno das eleições, com a vitória do candidato do Partido Social Liberal, PSL, Jair Messias Bolsonaro, com 55,13% dos votos válidos. O candidato do Partido dos Trabalhadores, PT, Fernando Haddad, obteve 44,87%, confirmando praticamente os prognósticos das últimas pesquisas de opinião pública. Longe dos patamares otimistas apresentados ao longo da campanha pelos partidários do candidato vencedor.

Mais uma vez, o Brasil ficou geograficamente dividido, tendo os eleitores das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte optado pelo candidato ideologicamente da DIREITA, e o Nordeste do país com o representante identificado com a ESQUERDA.

Como se registrou nos dois primeiros artigos (1ª e 2ª partes), o eleitor brasileiro nestas eleições trouxe para as ruas, efetivamente, a divisão ideológica que se apregoou. Não foram simples embates de ideias, pelo contrário, registraram-se grandes manifestações nos mais diversos recantos do país para marcar suas posições. Não é desarrazoado dizer-se que o Brasil pós-eleições, na conformidade do mapa-político-eleitoral, ficou deveras dividido.

Não se pode deixar de registrar que as eleições de 2018 ficarão marcadas, na história política nacional, como atípicas. Primeiro, porque o candidato do PSL manteve-se afastado dos embates das ruas e dos debates televisivos, ora pela condição física decorrente do atentado sofrido, ora por mera estratégia de campanha. Segundo, porque o eleitor ficou órfão do sempre esperado e desejável confronto entre os presidenciáveis, a fim de que cada um apresentasse seus projetos para resolver os grandes problemas nacionais que, certamente, e sem sombra de dúvidas, vão muito além da discussão ideológica que batiza o tema proposto.

Por outro lado, as eleições foram marcadas pela forte atuação das mídias sociais e com uma carga de informações surpreendente. Surgiram as famigeradas FAKE NEWS que a Justiça Eleitoral não conseguiu coibir a tempo, vindo tão-somente a identificar o desequilíbrio político-eleitoral quando o estrago já havia se consumado, notadamente para o Partido dos Trabalhadores.

Neste particular, o eleitor deu o recado de que o modelo vigente não mais atendia os anseios do povo brasileiro, que taxaram de ‘velha política’, abastecida pelo toma lá da cá, nepotismo e enraizamento da corrupção. Para muitos críticos, faltou ao PT fazer sua autocrítica naquilo que gerou o maior desgaste para a legenda, a falta de maior vigilância na condução das estatais.

Não é despiciendo registrar que o partido do presidente eleito, PSL, de nanico e sem nenhuma visibilidade nacional, alcançou significativo crescimento, cujo capital eleitoral se deve a própria figura do presidenciável, elegendo 52 Deputados Federais. O Partido dos Trabalhadores, por sua vez, além de conseguir o maior número de reeleitos, ficou com a maior bancada, 56 Deputados.

Afastado o confronto ideológico das duas legendas que foram ao segundo turno, importante consignar, também, a mobilização, nas últimas semanas que antecederam as eleições, de várias personalidades dos mais diversos segmentos da sociedade brasileira, atentos na visão de muitos com o que chamaram de ‘preocupação com o autoritarismo’ e em defesa do ‘Estado Democrático de Direito’.

Entanto, na contramão de quantos se manifestavam em defesa da DEMOCRACIA fazendo verdadeira barricada cívica, a fuga para o exterior do candidato Ciro Gomes envergonhou não só aos seus eleitores, como outros milhares que clamavam por uma união suprapartidária. Preferiu eleger seus interesses e projetos pessoais como prioritários. Efetivamente não teve postura de um estadista.

Na leitura deste articulista, a história já mostrou que o verdadeiro homem público e compromissado com o país releva discordâncias menores, como assim o fez o saudoso gaúcho Leonel da Moura Brizola. Na primeira eleição pós-redemocratização, depois de acirrada disputa com o candidato Lula, lhe emprestou, ato contínuo, apoio incondicional, fazendo a maior transferência de votos que se teve notícia na política brasileira.

É imperioso dizer que a decisão do velho caudilho se deu por entender que o opositor era o que existia de pior para o país, como de fato se sucedeu, sequer terminou o mandato. Por esta razão, e dentro deste mesmo alinhamento de ideia, a política provincial adotada por Ciro Gomes não o credencia como o estadista que pode unificar o país.

Ainda sobre o resultado das eleições, no Estado do Ceará, berço político de Ciro Gomes, a diferença de votos dele para com o candidato do PT, Fernando Haddad, restringiu-se a dez pontos percentuais, numa clara demonstração da força independente do Partido dos Trabalhadores. Fica claro, também, que as legendas que se assemelham à esquerda precisam unir-se para o enfrentamento que se avizinha, longe do isolacionismo apregoado, pois acima de tudo urge a defesa do Estado Democrático de Direito.

Noutra senda, o resultado do 2º turno comprovou a derrocada do PSDB nas urnas e sinalizou que o partido faça necessária reavaliação. Não obstante, sair vitorioso nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, e o primeiro diante de sua importância na vida econômica e política nacional, coloca o governador eleito, João Doria, como forte postulante ao Palácio da Alvorada. Isto torna o projeto pessoal de Ciro Gomes para 2022 num verdadeiro pesadelo.

Enfim, aos brasileiros notadamente os alinhados, ideologicamente, com a socialdemocracia precisarão de coragem para o duvidoso tempo que se avizinha. As minorias, mais do que nunca, terão que ter voz no parlamento, e que as conquistas alcançadas não sejam literalmente moídas pelo capital opressor, voraz na defesa de seus privilégios e algoz dos menos favorecidos. Cervantes, em Dom Quixote de La Mancha, imortal literatura espanhola, vaticinou: “Quem perde seus bens, perde muito; quem perde um amigo, perde mais; mas quem perde a coragem, perde tudo”. 

Avante amado Brasil.


 
(*) Francisco José Rodrigues Bezerra de Menezes, guaraciabense, Advogado. Pós-graduado em Direito Processual Civil e Direito e Processo Eleitoral. Especialista em Direito Civil. Sócio fundador da Bezerra de Menezes Advogados Associados. (E-mail: bezerrademenezesadv@gmail.com).




Nenhum comentário:

Postar um comentário