sábado, 25 de abril de 2020

ARTIGOS: Vítima do corona (Por Inocêncio Nóbrega*)

Jornal é uma matéria personificada: tem alma, pois é sensível; cérebro, pois pensa; além de membros, que se movimentam; tem impulsos, pois, dependendo de seu estado sano, está sempre no coração do povo. Tal como as pessoas, os acasos da vida lhe tolhem a saúde, levando-lhe à morte, por vezes efêmera. Quando impressos, somente alguns alcançam a longevidade, enquanto outros, não passam da adolescência, se preferem a razão ao comodismo político. Podem se finar por inanição financeira, nunca, que ouvisse falar, por uma virose humana.

Diria que o primeiro caso aconteceu, nesse quatro de abril, em João Pessoa. O “Correio da Paraíba” não mais circula, deixando para história esse epitáfio: “O motivo do fechamento do Correio decorre da crise gerada pela pandemia”. Por decreto do governo estadual, as bancas de jornal e revista tiveram suas atividades suspensas, fazendo retrair seus já reduzidos leitores.
Diário, oficialmente nascido em 5/08/1953, porém concebido na casa do paraibano Ascendino Leite, residente na Velhacap, trabalhando para “O Carioca”. Ele e o empresário Teotônio Neto, dividiram a paternidade da criança, embora haja vozes discordantes nesse sentido. 

Esse matutino, ao longo de sua trajetória sempre adotou uma posição ideológica conservadora, distanciando-se de seu principal concorrente local, “O Norte”, dos Diários Associados, que antes teve semelhante fim. Princípio editorial seguido pelos seus competentes redatores, linotipistas, emendadores, titulistas, revisores e repórteres, que por motivos profissionais a nada resistiam, mas não negavam seus  arroubos de liberdade,  mesmo a democracia em crise.

Estive no seu quadro de colaboradores por vários anos, enquanto gozava de prestígio junto ao seu Redator Chefe, João Bosco Gaspar, de saudosa memória. Felizmente, Gonzaga Rodrigues e João Manoel de Carvalho, da minha faixa etária dos oitentões, estão no nosso convívio, e ninguém mais credenciados para contarem a evolução histórica desse veículo de imprensa, o qual nos deixa lembranças. Afonso Pereira, Biu Ramos, Soares Madruga, Dorgival Terceiro Neto, Luís Augusto Crispim e, mais recentemente, Lena Guimarães não tiveram melhor sorte.

Rendo homenagens a todos os jornais brasileiros que, sofrendo as consequências do arbítrio e das atrocidades do mercado econômico aberto, tiveram de buscar seus ocasos. Vacinar contra esses abusos parece-nos impossível, mas há vacina disponível, vez que é uma questão de cultura e de soberania nacional. O desaparecimento do “Correio da Paraíba”, conforme declara na sua despedida, não deixa de ser uma das  vítimas do Coronavirus,  ainda não contabilizada pelo ministro Henrique Manetta.






(*) Inocêncio Nóbrega Filho é economista, jornalista, escritor Membro do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica, residente em Maceió (AL).  Contatoinocnf@gmail.com


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