Jornal é uma matéria
personificada: tem alma, pois é sensível; cérebro, pois pensa; além de membros,
que se movimentam; tem impulsos, pois, dependendo de seu estado sano, está
sempre no coração do povo. Tal como as pessoas, os acasos da vida lhe tolhem a
saúde, levando-lhe à morte, por vezes efêmera. Quando impressos, somente alguns alcançam a longevidade, enquanto outros,
não passam da adolescência, se preferem a razão ao comodismo político. Podem se
finar por inanição financeira, nunca, que ouvisse falar, por uma virose humana.
Diria que o primeiro caso aconteceu, nesse quatro de abril, em João Pessoa. O
“Correio da Paraíba” não mais circula, deixando para história esse epitáfio: “O
motivo do fechamento do Correio decorre da crise gerada pela pandemia”. Por
decreto do governo estadual, as bancas de jornal e revista tiveram suas
atividades suspensas, fazendo retrair seus já reduzidos leitores.
Diário, oficialmente
nascido em 5/08/1953, porém concebido na casa do paraibano Ascendino Leite,
residente na Velhacap, trabalhando para “O Carioca”. Ele e o empresário
Teotônio Neto, dividiram a paternidade da criança, embora haja vozes
discordantes nesse sentido.
Esse matutino, ao longo de sua trajetória sempre
adotou uma posição ideológica conservadora, distanciando-se de seu principal
concorrente local, “O Norte”, dos Diários Associados, que antes teve semelhante
fim. Princípio editorial seguido pelos seus competentes redatores,
linotipistas, emendadores, titulistas, revisores e repórteres, que por motivos
profissionais a nada resistiam, mas não negavam seus arroubos de liberdade, mesmo a democracia em crise.
Estive no seu quadro
de colaboradores por vários anos, enquanto gozava de prestígio junto ao seu
Redator Chefe, João Bosco Gaspar, de saudosa memória. Felizmente, Gonzaga Rodrigues e João Manoel
de Carvalho, da minha faixa etária dos oitentões, estão no nosso convívio, e ninguém
mais credenciados para contarem a evolução histórica desse veículo de imprensa,
o qual nos deixa lembranças. Afonso
Pereira, Biu Ramos, Soares Madruga, Dorgival Terceiro Neto, Luís Augusto
Crispim e, mais recentemente, Lena Guimarães não tiveram melhor sorte.
Rendo homenagens a
todos os jornais brasileiros que, sofrendo as consequências do arbítrio e das
atrocidades do mercado econômico aberto, tiveram de buscar seus ocasos. Vacinar
contra esses abusos parece-nos impossível, mas há vacina disponível, vez que é
uma questão de cultura e de soberania nacional. O desaparecimento do “Correio
da Paraíba”, conforme declara na sua despedida, não deixa de ser uma das vítimas do Coronavirus, ainda não contabilizada pelo ministro Henrique
Manetta.
(*) Inocêncio Nóbrega Filho é economista, jornalista, escritor Membro do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica, residente em Maceió (AL). Contato: inocnf@gmail.com
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