Segundo a ONU, os bebês que não são amamentados têm 14 vezes mais
chances de morrer antes de completar um ano de vida do que que os bebês que
recebem leite materno.
A campanha da ONU quer que as mães tenham garantido o direito à licença
maternidade, a intervalos regulares na jornada de trabalho para amamentarem
seus filhos, além de contarem com uma sala exclusiva para amamentação no
ambiente de trabalho.
Alguns mitos envolvendo amamentação ainda persistem, desestimulando
muitas mães a darem o peito para os filhos. A reportagem consultou dois
especialistas para derrubar alguns desses mitos bem comuns.
Catriona Waitt é médica do departamento de Farmacologia Clínica e Saúde
Global da Universidade de Liverpool e pesquisadora visitante da Faculdade de
Ciência da Saúde Makerere, de Kampala, em Uganda.
Alastair Sutcliffe é médica pediatra na University College London.
Mito 1: A amamentação é dolorosa e os mamilos ficam inchados pela
prática
Dra. Waitt: Esta é uma questão difícil de
abordar pois é perfeitamente normal que inicialmente as mães fiquem com os
bicos dos seios um pouco doloridos até se acostumarem. Entretanto, a
amamentação não deve em si ser algo dolorido. Caso a dor persista pode ser
sinal de que haja infecção no local ou de que o bebê não esteja acoplando a
boca ao seio como deve.
É normal que haja algum desconforto e pode ser que seja preciso fazer
algum ajuste na posição de mãe e bebê, especialmente se for o primeiro filho ou
a primeira experiência do tipo. Se a dor for grande e persistente o problema
deve ser conversado com o médico pediatra, com a enfermeira ou a parteira que
preste apoio.
Mito 2: Você não conseguirá amamentar se não começar a fazê-lo
imediatamente
Dra. Sutcliffe: Qualquer coisa que estimule as mães a amamentar
deve ser considerada boa para a saúde geral já que traz amplos benefícios.
Qualquer restrição artificial imposta ao comportamento humano natural, como por
exemplo impor um limite rígido de tempo, não tem base científica.
Mas com certeza existem vários benefícios da mãe oferecer o peito ao
bebê imediatamente.
O maior de todos é obviamente o aspecto da nutrição. Amamentar também
ajuda a iniciar o processo de contração do útero, que pode evitar ou pelo menos
retardar, o sangramento do útero, comum no pós-parto.
Nos primeiros dias após o parto, o corpo da mãe produz o colostro, uma
substância rica em proteína. É essa importante substância que dá início ao
período lácteo.
Mito 3: Você não pode tomar nenhum remédio se estiver amamentando
Dra. Waitt: Esta é uma das primeiras perguntas feitas por mães no
mundo todo. Os remédios que eu tomo afetam meu bebê?
Na verdade, a quantidade de componentes químicos que chegam até o bebê é
miníma. Caso um médico prescreva algum medicamento, você pode e deve questionar
se aquilo terá algum impacto no seu bebê, mas muito provavelmente a resposta
será que não causará nenhum dano ao seu filho ou filha.
Na maioria dos casos o que um bebê precisa é de uma mãe saudável. Os
medicamentos que normalmente são ministrados às mães contra infecções, contra
dor e antidepressivos não causam nenhum mal ao bebê.
Os remédios que não devem ser tomados durante a amamentação são bem
poucos. Geralmente são associados a tratamentos específicos e mais sérios como
por exemplo contra o câncer.
Outros medicamentos, entretanto, devem ser tomados somente após
criteriosa avaliação de riscos e benefícios. Qualquer mulher cujo médico lhe
tenha prescrito algum medicamento deve poder pedir o esclarecimento que quiser.
Os que requerem cuidados são alguns de venda livre, como remédios para
resfriado e gripe que contêm descongestionantes — eles podem reduzir o
suprimento de leite.
E sempre tome cuidado com medicamentos fitoterápicos porque você nunca
sabe exatamente o que contêm, e muitos deles não foram devidamente estudados.
Mito 4: Você deve comer apenas alimentos básicos e evitar pratos
apimentados antes de amamentar
Dra. Waitt: Não há nada que não se deva comer durante a amamentação. No
entanto, a composição exata do seu leite materno é influenciada pela sua dieta.
Em alguns casos, uma mulher pode notar um padrão. Por exemplo, notei com
um de meus filhos que, se eu bebesse um suco cítrico, como suco de laranja, o
bebê ficava muito irritado.
Às vezes, você pode perceber um padrão em que seu bebê reage a algo que
pode ser influenciado por sua dieta. Mas não há nada que deva ser prejudicial
ou medicamente incorreto e que precise ser evitado.
Mito 5: Você nunca deve usar fórmula se quiser amamentar
Dra. Waitt: Isso ão é absoluto. No entanto, grande parte da produção de
leite materno é basicamente regulada pela oferta e demanda. O corpo de uma
mulher é incrivelmente feito para que produza leite suficiente para o bebê.
Conforme o bebê suga o mamilo, ele aciona hormônios para produzir a
quantidade certa de leite. Portanto, se você amamentar um bebê pequenino, um
enorme ou mesmo gêmeos, seu corpo sempre produzirá leite suficiente.
Se você começar a dar fórmula, esse ciclo de reciprocidade é
interrompido. Seu corpo não está recebendo sinais suficientes de que o bebê
precisa de mais. Se você está tendo dificuldades com a produção de leite e
começa a introduzir a fórmula, isso pode lhe dar um alívio de curto prazo, mas
pode começar a piorar o problema.
Por outro lado, se você está tendo uma noite terrível, ou está doente e
exausta e seu parceiro dá ao bebê alguma fórmula para você descansar em algumas
ocasiões, isso não significa que você não possa amamentar. Então, basicamente,
não é algo absoluto, mas pode ser inútil.
Mito 6: Você não deve amamentar se estiver doente
Dra. Sutcliffe: Não, isso é um mito. As únicas circunstâncias em
que alguém não amamentaria é se tivesse HIV ou hepatite. Esses vírus podem ser
transmitidos através da lactação, o que enfrentamos tragicamente no passado.
Na maioria dos casos, é seguro continuar amamentando quando as mães
estão doentes, pois seus corpos produzem anticorpos que também protegem o
recém-nascido. É extremamente raro ver uma doença em um bebê transmitida por
uma mãe que amamenta.
Mito 7: É difícil desmamar um bebê se você amamentar por mais de um ano
Dra. Waitt: A Organização Mundial da Saúde recomenda que você
amamente exclusivamente por seis meses e depois introduza nutrição
complementar, mas continue amamentando pelo tempo que desejar. Não há um tempo
recomendado para parar.
Em alguns países de alta renda, como o Reino Unido, a maioria dos bebês
é totalmente desmamada entre um e dois anos. Enquanto em outros países de baixa
renda, como Uganda, a amamentação continua até crianças de dois a três anos. Um
problema global é que muitos países não têm licença maternidade suficiente para
permitir que as mães amamentem exclusivamente de acordo com as recomendações da
OMS.
(BBC)
Nenhum comentário:
Postar um comentário