O
levantamento foi feito a partir de um formulário divulgado pelo instituto
nas mídias sociais, como whatsApp, instagram e facebook. Ao todo, houve 270
entrevistados, que deram diferentes respostas às questões apresentadas.
De
um universo de 180 participantes, 21,1% deles afirmaram que sim, já se sentiram
discriminados, 26,1% que isso ocorre "na maioria das vezes" e 18,3%
que acontece "somente às vezes". Das 180 registradas, 34,4%,
portanto, declararam não vivenciar algo nesse sentido.
Conforme
os autores da pesquisa, quando o assunto é paternidade negra, deve-se ficar
atento ao fato de que as noções sobre a masculinidade tiveram sempre como
base a branquitude. O mesmo se aplica às ideias que a sociedade tem sobre o que
significa a responsabilidade por filhos.
"O
homem preto brasileiro, com todas as precariedades que lhes foram impostas, só
teve a possibilidade de começar a exercer a paternidade após a abolição da
escravatura, em 1888. Logo, ele está há menos de dois séculos exercendo
paternidades nessas terras. Um século e meio, quando se trata de
desenvolvimento humano, é quase nada. Toda memória de paternidade do homem
preto anterior ao século XIX é memória afetiva da África", observam os
pesquisadores do Promundo.
"O
povo negro teve, ao longo da história, a cultura do afeto e do cuidado
coletivo. Esse movimento comunitário pode apoiar o homem preto no exercício da
paternidade. Faz-se importante dizer que o movimento coletivo não retira a
responsabilidade individual", acrescentam os autores.
Com
os ataques à população negra, vestígios da escravização que ecoam ainda hoje,
muitos pais sentem a necessidade de conversar com os filhos sobre o estado de
vulnerabilidade que os atinge e o que têm como alternativas, na forma de
resistência. Oito (78,3%) de cada dez dos entrevistados do estudo acreditam que
pais negros e pais brancos educam de modo distinto. Além disso, 67,3% deles
dialogam com suas crianças sobre os impactos que o racismo tem na sociedade,
sendo que uma parcela de 36,7% mantém o tema em pauta com frequência. Quase a
totalidade de participantes (90%) entende que há uma exigência maior para
apresentarem repertório na educação de seus filhos, pelo fato de serem pais de
crianças negras.
Para
os pesquisadores, a paternidade, para os homens negros, é um desafio que deve
superar pontos estruturais, que se enraizaram historicamente. Eles argumentam
que viver a fase da juventude é uma possibilidade subtraída do homem negro, que
convive, durante toda a sua vida, com marcas do colonialismo, do racismo, da
divisão sexual de trabalho e da desigualdade social.
"O
machismo retira do homem o lugar do cuidado, submetendo-o, erroneamente, como
condição natural da mulher. Do homem preto ele retira duplamente, uma vez que o
racismo atribui ao homem preto a característica de “naturalmente violento”.
Romper com o machismo para cuidar e com o racismo para ser pai é uma luta
constante do homem preto que deseja paternar por aqui. Parece que o racismo
unido ao machismo é uma fórmula quase indestrutível de impedimento para o homem
preto exercer paternidade", afirmam.
(Ag. Brasil)
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