Seu nome
era Rosa Parks (1913-2005).
Cinquenta
e cinco anos antes, Montgomery havia aprovado uma lei que segregava os
passageiros dos ônibus por raça. A frente do ônibus era reservada para cidadãos
brancos e os assentos do fundo se destinavam aos cidadãos negros.
E também
havia o costume entre os motoristas dos ônibus de instruir os passageiros
negros a ceder o seu assento se não houvesse lugares "só para
brancos" vazios.
Quando o
ônibus ficou lotado naquela noite de inverno, o motorista James Blake exigiu
que Rosa Parks e três outros passageiros negros cedessem seus assentos. Mas ela
se recusou.
"Fiz
isso porque me senti desrespeitada como ser humano", contou ela mais
tarde, em entrevista à BBC.
"Eu
havia tido um dia difícil no trabalho, [estava] fisicamente cansada e
mentalmente irritada. Eu estava farta desse tipo de coisa que precisava
enfrentar como pessoa devido à nossa raça."
A recusa
de Parks teve rápida repercussão. O ônibus parou e ela foi imediatamente presa
pela polícia local.
Em 5 de
dezembro, ela foi declarada culpada de violar as leis de segregação, teve a
pena suspensa e foi multada em US$ 10, mais US$ 4 de custas judiciais. Em
valores de hoje, o valor total de US$ 14 em 1955 corresponde a aproximadamente
US$ 160, ou cerca de R$ 785.
A prisão
de Rosa Parks não foi um caso isolado. Ela foi consequência das leis
Jim Crow, que pretendiam legalizar o racismo e marginalizar os negros
americanos.
As leis
regiam quase todos os aspectos da vida diária, negando aos negros americanos o
direito ao voto e ordenando a segregação de escolas, toaletes, transporte
público e restaurantes.
Também
não foi a primeira vez em que uma pessoa foi presa por se recusar a ceder o
assento para um passageiro branco. Nove meses antes, Claudette Colvin, de
apenas 15 anos, havia enfrentado a mesma situação.
Mas,
desta vez, a tranquila ousadia de Rosa Parks acabaria sendo o catalisador das
mudanças.
Punida
por sua coragem
A postura
aparentemente calma de Rosa Parks contrastava com a experiente ativista que
havia sido secretária da filial da Associação Nacional para o Avanço das
Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês) na cidade de Montgomery.
Após sua
prisão, a Associação para o Progresso de Montgomery organizou um boicote ao
sistema de ônibus da cidade. O protesto foi encabeçado por um jovem pastor de
26 anos chamado Martin Luther King Jr. (1929-1968), que viria a liderar o
movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos.
O boicote
durou mais de um ano e a perda de receita paralisou o sistema de transporte
público da cidade. A situação chamou a atenção de todo o país para o racismo
institucional que permeava as leis Jim Crow.
Paralelamente,
o caso de Rosa Parks seguia seu trâmite no judiciário americano. O processo
acabou chegando à Suprema Corte em dezembro de 1956, que decidiu que a
segregação do ônibus era inconstitucional.
Mas Parks
foi punida pela sua coragem. Ela perdeu o emprego na loja de departamentos
durante o boicote dos ônibus e enfrentou ameaças de morte durante todo o
processo judicial.
No ano
seguinte à decisão da Suprema Corte, ela e seu marido (que também perdeu o
emprego) se mudaram para Detroit, tentando escapar do contínuo assédio que
sofriam.
O casal
teve dificuldades para encontrar trabalho nos anos que se seguiram, devido à
retaliação que se seguiu ao boicote. Ela também sofreu problemas de saúde, que
trouxeram altas contas hospitalares.
Ainda
assim, Rosa Parks manteve seu profundo envolvimento na luta pelos direitos
civis, defendendo moradias dignas e direito ao voto em Detroit.
Ela se
inscreveu como voluntária na campanha do candidato democrata local ao
Congresso, John Conyers (1929-2019). Depois de eleito, Conyers a contratou como
assistente no seu escritório em Detroit – cargo que ela ocupou até se
aposentar.
'Mãe do
movimento'
A prisão
de Rosa Parks pôs fim à segregação racial no transporte público nos Estados
Unidos, mas seu impacto foi muito maior.
Sua calma
resistência frente ao racismo mobilizou a comunidade negra, formando as bases
da campanha pelos direitos civis, que incluiu a histórica Marcha sobre
Washington em 1963 e a aprovação da Lei dos Direitos Civis de 1964 e
da Lei do Direito ao Voto de 1965.
"Acho
que, se houve um momento, um evento no movimento pelos direitos civis que
começou nos anos 1950, você pode indicar o boicote aos ônibus de Montgomery e a
sra. Parks... que foi simbolizado por este tribunal e sua condenação...",
afirmou o advogado de Rosa Parks, Fred Gray, na entrevista à BBC.
A recusa
de Parks a ceder seu assento alimentou o entusiasmo por um movimento de massa
que acabaria destruindo as políticas racistas de segregação. E ela se tornou um
símbolo da luta por justiça e igualdade.
Em
1999, o Congresso americano concedeu a Rosa Parks sua mais alta homenagem,
a Medalha de Ouro do Congresso, por ser considerada "a mãe do movimento
pelos direitos civis".
(Fonte: BBC)
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