

“O
desafio mais complexo que enfrentamos hoje é o da desinformação”, afirmou o
presidente da SIP, o salvadorenho José Roberto Dutriz, durante a abertura da
81ª Assembleia Geral da entidade, realizada em Punta Cana, na República
Dominicana.
“Em um ecossistema
midiático saturado por redes sociais, algoritmos opacos e pela irrupção
vertiginosa da inteligência artificial generativa, a mentira viaja mais rápido
que os fatos. E a manipulação [das informações] corrói a confiança social”,
acrescentou Dutriz.
Segundo a SIP, a prática diária do jornalismo vem sendo limitada
ou impedida em países americanos com diferentes contextos políticos e
econômicos, independentemente da corrente ideológica à qual os governantes da
vez são filiados.
Casos de assédio, violência, perseguição judicial, pressão econômica, controle digital e censura explícita se intensificaram, em diferentes graus, tanto na Argentina, do liberal presidente Javier Milei, quanto na Colômbia, do socialista Gustavo Petro, bem como no Canadá, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Nicarágua, Peru, Venezuela, entre outras nações.
Estados
Unidos
Embora
aponte para uma deterioração geral, a SIP manifestou especial preocupação com a
situação nos Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, e seus seguidores,
investem reiteradamente contra veículos de imprensa e jornalistas que criticam
a atual gestão.
“Temos
observado, com alarme, uma crescente deterioração do clima [de trabalho dos
profissionais de] imprensa [nos EUA], historicamente considerados um farol para
as liberdades democráticas”, comentou Dutriz, referindo-se a episódios
recentes.
Na semana passada, dezenas de jornalistas das principais
agências e veículos de notícia, incluindo a FOX News, devolveram suas
credenciais de acesso ao Pentágono.
A
iniciativa foi uma resposta à exigência de que os profissionais submetam suas reportagens à prévia aprovação do
Departamento de Defesa – que o governo Trump quer que passe a se chamar
Departamento de Guerra, o que depende da aprovação de uma lei.
Autoridades
federais também já sinalizaram que o governo estadunidense tem planos para
limitar a estadia de jornalistas estrangeiros no país.
Em setembro, o próprio presidente Trump ameaçou revogar as licenças de
operação de emissoras de rádio e TV que o criticam.
“A investida do
governo contra veículos de imprensa e jornalistas, o uso de processos judiciais
como ferramenta de assédio e as ameaças às licenças de radiodifusão revelaram
uma tendência perigosa. Não se trata apenas de ataques a periódicos ou a
emissoras. Trata-se de um enfraquecimento do sistema democrático mais influente
do nosso hemisfério. E não nos enganemos: o que ocorre em Washington repercute
em toda a América”, acrescentou Dutriz.
Brasil
Segundo
a presidenta da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da Sociedade
Interamericana de Imprensa da SIP, Martha Ramos, no Brasil, os últimos seis meses foram marcados pela
continuidade de um preocupante quadro de assédio judicial contra jornalistas
nas primeiras instâncias do Poder Judiciário.
“Ainda
que, nestes casos, as decisões finais, do Supremo Tribunal Federal [STF],
tenham sido, geralmente, favoráveis à [manutenção da] liberdade de imprensa”,
destacou Martha ao resumir aspectos do relatório, que citam o caso da
jornalista Rosane de Oliveira e do jornal Zero Hora, do Grupo RBS.
Eles
foram condenados, em primeira instância, a indenizarem a ex-presidenta do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a desembargadora Iris Medeiros
Nogueira, por terem divulgado os vencimentos da magistrada como forma de
demonstrar que ela recebeu além do valor máximo estipulado por lei. Rosane e o
jornal recorreram da decisão, alegando terem usado informações oficiais, de
interesse público.
“Também
é alarmante a persistência de casos de violência contra jornalistas. As ações,
na sua maioria, de autoria de detentores de cargos públicos, especialmente
políticos”, destacou Martha Ramos, manifestando a preocupação da SIP com a
possibilidade de o STF validar a proposta de aumentar
em um terço a pena dos crimes contra a honra de funcionários públicos.
“Há
ainda um preocupante número de registros que evidenciam verdadeiras campanhas
coordenadas, por parte de ocupantes de cargos públicos, de políticos e de
grupos de influência – como clubes de futebol – na tentativa de intimidar,
constranger e desacreditar veículos e jornalistas, muitas vezes nas redes
sociais, mas também pessoalmente”, aponta trecho do relatório, elencando vários
casos registrados no país ao longo dos últimos meses.
Repórteres
sem fronteira
Em maio
deste ano, a organização não governamental (ONG) Repórteres Sem Fronteiras divulgou seu ranking anual sobre
a situação da liberdade de imprensa em todo o mundo.
Segundo
a ONG, pela primeira vez na história do levantamento, as condições para o
jornalismo são consideradas “ruins” em metade dos países do mundo e
“satisfatórias” em menos de uma em cada quatro nações.
No
Brasil, contudo, "a possibilidade efetiva de jornalistas, indivíduos e
coletivos selecionarem, produzirem e divulgarem informações de interesse
público, independentemente de ingerências políticas, econômicas, legais e
sociais, e sem ameaça à sua segurança física e mental” melhorou de 2022 até o
último período avaliado, levando o país a saltar da 63ª posição para a 47ª do ranking.
Já nos
Estados Unidos, que terminou na 57ª posição, a confiança na mídia, segundo a
ONG, está em queda, com o governo Trump politizando instituições públicas,
reduzindo o apoio à mídia independente e hostilizando jornalistas.
O ranking da Repórteres Sem Fronteiras avalia cinco indicadores: além dos contextos político, social e econômico, também o marco legal e segurança.
(Ag. Brasil)
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